Folha de S. Paulo


Com bairros em alerta, SP tem 3 h de fila para vacina contra febre amarela

Após o diagnóstico de febre amarela em um macaco no Horto Florestal, o governo e a prefeitura recomendaram a vacinação em três bairros da zona norte da cidade de São Paulo, onde se formaram longas filas em postos de saúde.

A detecção levou ainda ao anúncio do envio de doses extras ao Estado e à possível ampliação do horário de funcionamento de unidades básicas na região, ainda sob estudo.

O diagnóstico de febre amarela em um macaco é um indicativo de que o vírus da febre amarela, transmitido por um mosquito, circula na área.

Segundo o secretário estadual David Uip (Saúde), além do animal já diagnosticado, outros quatro foram encontrados mortos no Horto desde sexta (20). Dois estão sob investigação para a causa do óbito. Nos demais casos, a análise não é possível devido ao estado dos cadáveres.

Diante disso, para bloquear o avanço do vírus, governo e prefeitura decidiram promover uma "vacinação em círculos" ao redor do Horto, explicou o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara.

Inicialmente, serão imunizadas pessoas que vivem em um raio de 500 metros a partir do parque, em três bairros: Casa Verde, Cachoeirinha e Tremembé, em um total de 500 mil pessoas. Na segunda fase, devem ser atendidas 2,5 milhões da zona norte.

Na manhã desta segunda (23), a unidade mais próxima do Horto registrava fila de mais de duas horas. Depois de ser imunizada, Eliene Santos Souza, 44, entrou na espera pela segunda vez para garantir a proteção do filho e do marido, que estavam trabalhando. "No outro posto que eu fui estava pior. Cheguei às 7h30 e recebi a senha número 195. Desisti e vim para cá."

Febre

À tarde, a espera passava de três horas na UBS Jardim Peri, em fila de um quarteirão.

Segundo a prefeitura, até esta segunda foram imunizadas 12.818 pessoas só na região do Horto. O parque (assim como o da Cantareira) está fechado, sem data para reabrir.

A partir de quarta (25), o número de postos da zona norte que disponibilizam a vacina será ampliado de 4 para 33. Uip pediu que moradores de outras regiões evitem buscar a vacina se não forem viajar para áreas infectadas, até pelo risco de efeitos adversos, ainda que raros. Ele diz não haver motivo para pânico.

A detecção de febre amarela em um macaco na capital paulista acontece um mês após o ministro Ricardo Barros (Saúde) declarar o fim do surto da doença iniciado em dezembro e considerado o pior já registrado no Brasil desde 1980 –de dezembro a junho, foram confirmados 777 casos e 261 mortes pelo vírus.

Ele disse nesta segunda que a morte do macaco no Horto "indica a aproximação de um novo ciclo", mas que "tecnicamente não muda a avaliação" de fim do surto devido ao período de 90 dias sem casos.

Segundo Barros, a pasta deve disponibilizar 1,5 milhão de doses extras da vacina para reforçar os estoques de São Paulo e atender um aumento na procura –o Estado tem cerca de 1,5 milhão de doses.

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BAIRROS COM VACINAÇÃO RECOMENDADA Moradores de três bairros próximos ao Horto Florestal devem se vacinar

Perguntas e respostas

Qual é a situação atual da febre amarela na capital paulista?
Após a confirmação da morte de um macaco por febre amarela no Horto Florestal, o governo de SP fechou o local e o parque da Cantareira, também na zona norte, e recomendou a vacina para residentes de bairros próximos

Há registro de pacientes em SP?
Na capital paulista, não. No Estado, houve neste ano 22 casos de febre amarela silvestre (transmitida em área de mata), com dez mortes

O Brasil tem casos de febre amarela urbana?
Não. Desde 1942, o país só tem ocorrências da variação silvestre do vírus

Como se prevenir?
A vacinação é a principal medida de prevenção

Quem deve se vacinar?
Na capital paulista, moradores de três bairros: Casa Verde, Cachoeirinha e Tremembé, vizinhos ao Horto. Depois, a imunização será estendida a outros bairros da zona norte. Além disso, permanece a recomendação de vacina para quem se dirige a regiões de mata dentro das áreas de risco. O mapa pode ser consultado em saude.gov.br/febreamarela

Fui ao Horto ou à Cantareira nas últimas semanas. Devo me vacinar?
Não. A recomendação é que apenas moradores dos bairros vizinhos ao Horto sejam imunizados

Não moro nesses locais nem vou viajar a áreas de risco. Devo me imunizar?
Não, inclusive porque a vacina tem risco de efeitos adversos –embora raros, alguns deles são graves

Onde a vacina está disponível?
Na rede pública, pode ser encontrada em unidades básicas de saúde. Na particular está disponível por cerca de R$ 250

Quantas doses da vacina é preciso tomar?
Uma, segundo recomendação do Ministério da Saúde e da OMS (Organização Mundial de Saúde)

Até abril, o ministério recomendava tomar uma segunda dose dez anos após a primeira. Quem foi vacinado antes da mudança de recomendação precisa tomar a segunda dose?
Não. A vacina atual é exatamente a mesma de antes. A única mudança é que o ministério passou a aceitar o entendimento anterior da OMS de que apenas uma dose é suficiente.

Quem não pode tomar a vacina?
Gestantes, bebês com menos de 6 meses (e mulheres que amamentam crianças até essa idade), alérgicos a ovo e pessoas imunodeprimidas em razão de doença ou tratamento. No caso de pessoas com doenças autoimunes ou mais de 60 anos, a vacinação deve ser analisada por um médico

Tenho indicação para vacina, mas mas perdi meu cartão de vacinação e não sei se tomei a dose. O que fazer?
Procure o serviço de saúde que costuma frequentar e tente resgatar seu histórico. Caso não seja possível, a recomendação é fazer a vacinação normalmente

Após a infecção pelo vírus, em quanto tempo a doença se manifesta?
Os sintomas iniciais aparecem de três a seis dias depois

Quais são os sintomas?
Inicialmente, febre, calafrios, dores no corpo, náuseas e vômitos. A maioria das pessoas melhora após os sintomas iniciais, mas cerca de 15% desenvolvem sintomas mais graves, como hemorragia, que podem levar à morte


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