Folha de S. Paulo


Marcus Moraes Accioly (1943-2017)

Mortes: Um poeta pernambucano que sabia das coisas

"O poeta nasce, ninguém o forma. Pode formar o escritor, mas não o poeta". Era com essas palavras que o pernambucano Marcus Accioly explicava sua relação com a poesia.

Nascido na pequena Aliança, ele desde menino mostrava que tinha jeito com as palavras. Com o tempo, evoluiu em texto, mas manteve em suas obras as referências daquela época: os rios e pássaros de Aliança, o engenho de seu avô, as mangas que comia nas férias em Itamaracá.

Viveu toda a infância com os avós maternos, se mudando para a casa dos pais, no Recife, quando já estava com 13 anos. Pouco tempo depois, assumiu a administração do engenho do pai, apesar da idade. Por cerca de um ano, ficou sozinho em uma casa escura –aproveitou para escrever.

De volta ao Recife se formou em direito e letras e foi dar aulas na UFPE. Assumiu outros cargos como no Museu Joaquim Nabuco e no Ministério da Cultura, mas sempre resumia sua carreira em poeta.

Descrito por ele mesmo como compulsivo, Marcus acordava entre 4h30 e 5h para escrever e dispensava qualquer programa para continuar escrevendo. Era rápido com as ideias, mas fazia milhões de correções, brinca a mulher, Glória. Os poucos momentos de lazer iam para a pesca.

Várias vezes, repetiu que poeta sabe das coisas. Coincidência ou não, fez seu próprio epitáfio há cerca de dez dias e, mesmo sem qualquer doença, disse a Glória, na manhã de sábado (21), que não gostaria de ficar internado, preferiria uma morte repentina.

Morreu cerca de uma hora depois, aos 74, após um infarto. Deixa mulher, dois irmãos e cerca de 30 obras inéditas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes
Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: