Sentado na calçada, diante da casa dos tios, Douglas Quinta Reis lia entretido suas revistas em quadrinhos. Com seis anos, tinha que esperar o primo mais velho ler para herdar os últimos exemplares e, assim que pegava, não esperava nem chegar em casa.
Pererê, de Ziraldo, e as norte-americanas Bolinha e Luluzinha eram as suas favoritas na época. Só mais tarde veio o gosto por super-heróis e ficção científica. Trocava com os meninos da rua e chegava a ler seis, sete em um único dia.
Nascido em São Paulo, Douglas se formou em engenheiro e começou uma carreira numa empresa de informática nos anos 1970, mas continuava fã das revistinhas. Tanto que acabou encontrando no trabalho colegas com interesses bem parecidos.
A cada conversa surgiam novos interesses, ideias e reclamações, como a dificuldade de acompanhar quadrinhos sequenciais, já que eles chegavam sem regularidade do Brasil. Assim, eles idealizaram a editora Devir, em 1987.
Apaixonado pelo mundo fantástico, Douglas levou a empresa da importação de quadrinhos numa época em que eles nem tinha lugar nas livrarias brasileiras até a produção de RPG e distribuição de jogos. Em 30 anos, a Devir já estava em oito países.
Calmo, Douglas tinha sempre um sorriso no rosto, fosse no trabalho ou em casa. Era fã do Juventus, como qualquer outro morador da Mooca, e não perdia eventos que lembrassem a Hungria, país de seus ascendentes.
Morreu dia 13, aos 63, após um infarto fulminante. Deixa a mulher, a mãe, dois enteados, dois irmãos e uma neta.
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