Folha de S. Paulo


Mega-apreensão de peixes em Manaus tem até espécies desconhecidas

A Polícia Federal apreendeu neste sábado (14) 672 peixes ornamentais no aeroporto de Manaus. O caso chamou a atenção pela quantidade recorde de espécies –sete ao todo, das quais uma está ameaçada de extinção e ao menos duas ainda não foram catalogadas pela ciência.

Os animais estavam dentro de dezenas de sacos plásticos que ocupavam três malas grandes. Com eles, foram presos o estudante Jhon Batalha Coelho, 23, e o técnico de segurança Leandro Martins dos Santos, 25. Os dois tentavam embarcar para Tabatinga (cidade amazonense na tríplice fronteira com o Peru e Colômbia).

De lá, provavelmente cruzariam a fronteira seca com a Colômbia, hoje a principal rota de contrabando de peixes ornamentais brasileiros, que têm grande mercado no Japão e em outros países ricos.

Levados pelo Ibama para o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), os peixes foram retirados dos sacos plásticos e reacomodados em grandes tanques. Muitos apresentavam escoriações pelo corpo. Duas arraias e alguns outros peixes menores morreram.

Segundo o analista do Ibama Daniel Abrahão, esta foi a maior apreensão registrada na Amazônia em relação à quantidade de espécies. "Isso indica que os traficantes estão contrabandeando cada vez mais a nossa fauna." A soma das multas aplicadas aos dois pelo Ibama chega a R$ 3,04 milhões. Ambos foram autuados por crime ambiental e tentativa de contrabando, mas acabaram liberados na tarde deste domingo (15).

De acordo com o delegado Wesley Aguiar, responsável pela apreensão, os dois eram mulas, em esquema semelhante ao do narcotráfico. Ele explicou que também devem ser indiciados pelo crime de receptação.

Peixes são apreendidos no AM

A espécie mais valiosa é o acari-zebra, endêmico de um pequeno trecho do rio Xingu e sob ameaça crescente de extinção após ter seu habitat reduzido pela construção da usina de Belo Monte, em Altamira (PA). No sábado, foram apreendidos 302 espécimes de acari-zebra. Nos Estados Unidos, o preço por unidade gira em torno de R$ 1.100.

Responsável pela custódia dos peixes, o pesquisador do Inpa Jansen Zuanon explicou que todos vieram da bacia do rio Xingu e que ao menos duas espécies ainda não foram descritas cientificamente. Uma terceira espécie precisará passar por uma análise mais aprofundada.

Zuanon explicou que a situação que mais preocupa é a do acari-zebra. "A Belo Monte destruiu o principal habitat da espécie, e esse comércio clandestino aumenta a pressão do que sobrou dessa população." O pesquisador afirma que um acordo com a Colômbia para proibir o comércio de acari-zebra diminuiria o contrabando. Ele também defende a instalação de pontos de inspeção nos aeroportos menores da Amazônia.

Os dois homens presos não têm advogado, segundo a PF. A reportagem deixou recado no celular de um deles, mas ninguém ligou de volta.


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