Folha de S. Paulo


Maria do Ceu Peres (1926-2017)

Mortes: Imigrante, viveu com a cabeça em Portugal por 65 anos

Arquivo Pessoal
Maria do Ceu Peres (1926-2017)
Maria do Ceu Peres (1926-2017)

Maria do Ceu não almejava ficar quando desembarcou no Brasil, em 1952. De Guarda, Portugal, veio a São Paulo encontrar o marido, Francisco, que imigrara um ano antes.

Gostava da vida por lá: o clima frio (a cidade natal é a mais alta do país), a culinária, estar a passos de distância dos sete irmãos.

Porém, Francisco precisava de esteio e Maria do Ceu, mais companheira do que apegada à terra, foi ficando.

A vida aconteceu: os negócios vingaram –ele fabricava artefatos de bilhar–, mudaram-se para um bairro melhor, o casal teve uma filha. Gradualmente, Guarda concretizava-se como lembrança, não projeto.

"Cresci ouvindo falar de Portugal. Tanto que, na primeira vez que fui à Guarda, a reconhecia visualmente", diz a filha, Maria Constança.

No começo dos anos 70, voltou pela primeira vez, para uma visita. A sinestesia foi quase mortal. "Ela vinha de uma cirurgia mamária e teve um AVC, tamanha foi a choradeira", lembra a filha. "Ela se emocionava extraordinariamente com qualquer coisa."

Ao contrário de muitos imigrantes, frequentadores de eventos da colônia, reviver Portugal para ela era uma experiência privada –tentava reproduzir, de memória, os pratos de sua juventude; incentivava a filha, que formou leitora, a conhecer os autores portugueses.

"Passávamos horas lendo. Ela me mimava muito, mas se me dava um brinquedo, dava um livro junto", diz Constança, hoje professora de filosofia da PUC-SP.

Morreu no dia 27, aos 91, após um infarto. Deixa marido, filha, irmã e sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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