Folha de S. Paulo


Sérgio Antônio Sá de Albuquerque (1953-2017)

Mortes: Cego com orgulho, foi compositor de baladas de sucesso

Ana Ottoni-20.out.2004/Folhapress
O músico cearense Sérgio Sá, deficiente visual desde que nasceu, morreu na madrugada desta terça (3)
Sérgio Antônio Sá de Albuquerque (1953-2017)

Todo aniversário Sérgio ganhava gaitas de boca. A primeira recebeu porque os parentes não sabiam muito bem como presentear uma criança cega. As seguintes vieram na forma de investimento: já nos primeiros assopros, o menino apresentou um talento musical incomum.

Da gaita passou para o piano, instrumento ao qual se dedicou durante 48 anos de carreira. Compositor, cantor, arranjador e técnico de gravação, Sérgio Sá foi autor de mais de 350 canções.

Sob o pseudônimo Paul Bryan, surgiu para o grande público com a balada "Listen", da trilha sonora da novela "O Bem Amado", da Rede Globo. Depois disso, vieram parcerias com artistas como Roberto Carlos, Tim Maia, Fábio Júnior e Vanusa.

Cego desde o nascimento, Sérgio mudou-se sozinho para São Paulo aos 11 anos, para estudar no tradicional Instituto Padre Chico –Fortaleza, sua terra natal, não tinha escolas especializadas.

Um ano depois, os pais e a irmã mais velha também trocaram de endereço. A reconfiguração não foi uma doação sem contrapartida: a família também ganhou com a singularidade do então caçula.

"Aprendemos a nos abrir a outros sentidos e emoções", diz a irmã Eliana. Editora, ela publicou três livros sobre a condição do músico: dois escritos por ele e um pela mãe.

Bem-humorado, nunca lamentou a cegueira. "Beethoven não compôs o que compôs sendo surdo?", dizia. Também rejeitava ser chamado de deficiente visual –para ele, um eufemismo.

Morreu nesta terça (3), após um infarto. Deixa mulher, duas irmãs, três filhos e quatro netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes
Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: