Se um artista fosse desajustado, trambiqueiro ou incompreendido, Luzia Portinari Greggio sabia tudo sobre ele —e compartilhava o conhecimento bebericando um vinho.
São bons exemplos Flávio de Carvalho e Anita Malfatti, biografados por ela ("Flávio de Carvalho - A revolução modernista no Brasil" e "Anita Malfatti - Tomei a liberdade de pintar ao meu modo").
De Anita, gostava do enfrentamento com a elite. De Flávio, que certa feita chamou a polícia para fechar a própria exposição, gostava da cara de pau. A história da arte era, para ela, uma questão de enganadores e enganados.
Puxou do pai, Ítalo Greggio, o gosto por contar boas histórias, como ele fazia nas noites pacatas de sua infância em Araçatuba, no interior de São Paulo, nos anos 1940. Da mãe, Julieta, veio a dedicação incansável à família.
Veio para a capital nos anos 1960, estudou ciências sociais na USP (Universidade de São Paulo) e dirigiu o Serpro, empresa estatal de tecnologia.
De acadêmica, não tinha nada. Dizia não entender para que serviam as ciências sociais e se gabava de, no colegial, ter criado um grupo de teatro e dado um golpe na escola, convencendo-os de que a atividade deveria contar crédito.
Aos 60, encontrou a vocação de curadora de arte. Firmou de vez a dupla com a irmã mais velha, a pintora Marysia Portinari (ambas sobrinhas de Cândido). Sua ironia complementava o jeito aristocrático e sério da irmã. Nas exposições, era ela quem dominava as planilhas e orçamentos.
Morreu no dia 22, aos 75. Deixou irmãos, sobrinhas-netas e sobrinhos, dos quais se encarregou de educar com arte e cinema por toda a vida.
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