Folha de S. Paulo


Cemitério de SP tem 'lixão' com caixões e ossos ao ar livre

Robson Ventura/Folhapress
Sao Paulo, SP, 29/08/2017, Brasil 13:48:11 Caixoes abertos e amontoados dentro do Cemiterio da Vila Nova Cachoeirinha, no local existe assos homanos no chao e uma grande quantidade de moscas que saem dos tumulos abertos.( Robson Ventura/Folhapress ). EMBARGADA PARA VEICULOS ONLINE *** UOL E FOLHA.COM, FOLHAPRESS CONSULTAR FOTOGRAFIA DO AGORA SP *** FONES 32242169 - 32243441 ***,
Caixões abertos e amontoados dentro do cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, em meio a lixo

Com um lixão a céu aberto, usuários de drogas e tumbas abertas, o cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, vive um cotidiano de abandono. Em um dos cantos do cemitério há uma pilha de lixo que tem pedaços de caixões, roupas de defuntos, entulho e até mesmo ossos humanos.

Dependentes químicos formaram uma pequena cracolândia dentro do local. A proliferação de insetos, principalmente pequenos mosquitos e baratas, incomoda os moradores do entorno.

Dezenas de tumbas estão mal conservadas e abertas, e é possível ver ossadas dentro das campas sem tampa. O lixo também recobre parte das sepulturas. Diversas lápides estão amontoadas junto à pilha que reúne os restos de caixões e de cadáveres.

Essas situações acontecem na maior parte do cemitério, sob a gestão João Doria (PSDB), mas a parte mais degradada fica junto ao muro entre as ruas Mendonça Júnior e Santa Rita do Araguaia. Buracos feitos ao longo do muro permitem a livre entrada e saída de dependentes químicos.

Segundo moradores da rua Santa Rita, são os usuários de drogas que arrebentam os muros. "Mesmo quando consertam, rapidamente os 'noias' quebram em um novo ponto, para poderem usar drogas lá dentro", disse a dona de casa Josefina Oliveira, 66 anos, que mora próximo ao local onde são feitos os buracos.

O "Agora" também flagrou nesta terça-feira (29) um grupo de cerca de 15 pessoas usando drogas. O mau cheiro próximo à pilha de lixo é muito forte. Ele pode ser sentido por quem passa na rua, no lado de fora do cemitério.

"Isso aqui virou cenário de filme de terror, com esses caixões e ossos largados aí, além de baratas e moscas em enorme quantidade. Nem mortos-vivos faltam, com esses usuários de crack imundos e maltrapilhos circulando por aí", disse o aposentado Antônio Rodrigues Nery, 67 anos, que mora na rua ao lado do cemitério.

INFESTAÇÃO

A vendedora Jaciara Siqueira Penteado Santos, 62 anos, mora em frente à área mais degradada do cemitério Vila Nova Cachoeirinha desde que nasceu, e afirma que a situação está insuportável. "Apelamos à prefeitura pelo telefone 156, muitas vezes, falamos diretamente com a administração do cemitério, mas nada mudou."

No domingo, Jaciara fez um vídeo com o celular mostrando o descaso da gestão pública com o cemitério. Postado no Facebook, o vídeo tinha 29 mil visualizações até a noite de terça. "Cansei da falta de atitude da prefeitura", disse Jaciara.

Um dos maiores incômodos para os vizinhos do Cachoeirinha são os mosquitos. "Todo ano tem, mas 2017 está particularmente terrível", disse a doméstica Fernanda da Silva, 35 anos, moradora da região desde que nasceu. "Quando passa o lixeiro, o tamanho do enxame nos sacos de lixo assusta", disse Fernanda.

A designer Gabriela Fernanda do Nascimento, 31 anos, que também mora em frente ao cemitério, reclama. "Os mosquitos atrapalham qualquer atividade, especialmente preparar refeições e comer. Tenho uma avó com demência, dá pena de ver ela sofrendo com esses insetos. Além disso, quando faz calor, saem milhares de baratas de dentro do cemitério. É nojento", reclama a designer.

TÚMULO DO FILHO

A dona de casa Michelly Turella, 39 anos, tem medo de que usuários de drogas profanem o túmulo do filho, o soldado Jonathan Turella, 19 anos, morto em 24 de abril durante treinamento do Exército em Barueri (Grande São Paulo). "Eu vou visitar meu filho todo domingo, e tenho que limpar a tumba. São pinos de cocaína, camisinhas e outros tipos de lixo. Levo até luvas para isso", disse Michelly.

"No cemitério Cachoeirinha, quem morreu não tem paz. Morro de medo de chegar lá e encontrar o corpo do meu filho para fora do túmulo, ou o túmulo aberto e o caixão para fora", afirmou a dona de casa. Ela diz que pensa em processar a prefeitura. "Isso é um absurdo, e eu e meu marido queremos tirar o corpo do nosso filho de lá, antes que façam alguma coisa desrespeitosa".

Segundo ela, a visita é difícil. "Temos que enfrentar mosquitos e a ameaça de usuários de drogas. Assim não dá para homenagear meu filho", disse.

PROMESSA DE LIMPEZA

O Serviço Funerário do Município de São Paulo, da gestão João Doria (PSDB), afirmou que fará a limpeza do cemitério Cachoeirinha até sexta-feira, e que notificou a empresa responsável pelo local.

"Caso a situação não se normalize até a próxima semana, a empresa será multada. Essas ações reduzirão a presença de insetos", diz a nota, que afirma ainda que a melhoria na manutenção e segurança dos cemitérios "será obtida com sua concessão ao setor privado".

Sobre o uso de drogas, prefeitura diz que a Guarda Civil Metropolitana age apenas no interior dos cemitérios e do crematório. A Secretaria da Segurança Pública, da gestão Alckmin (PSDB), afirmou que a Polícia Militar vai verificar a necessidade de readequar o policiamento na região.


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