Folha de S. Paulo


Escritora denuncia estupro por motorista; Uber bane profissional

Reprodução/Facebook/Clara Averbuck
Clara Averbuck, que denunciou nas redes sociais abuso sofrido de motorista de Uber em São Paulo
Clara Averbuck, que denunciou nas redes sociais abuso sofrido de motorista de Uber em São Paulo

A escritora Clara Averbuck, 38, fez uma publicação nesta segunda-feira (28) em seu Facebook, em que relata o estupro que ela sofreu por parte de um motorista da Uber na noite de domingo (27).

No post, Clara conta a violência que sofreu. "Fui violada de novo, violada porque sou mulher, violada porque estava vulnerável e mesmo que não estivesse poderia ter acontecido também. O nojento do motorista do Uber [sic] aproveitou meu estado, minha saia, minha calcinha pequena e enfiou um dedo imundo em mim".

À Folha, Clara afirmou que voltava de uma festa e já estava em uma rua ao lado de sua casa quando, ao tentar descer do carro, foi empurrada pelo motorista. Ele então fez que a ajudaria a levantar, momento em que cometeu o abuso. Transtornada, ela diz que se desvencilhou e foi para casa, quando contou a um amigo.

"Eu estava bêbada, não me envergonho. Sou uma mulher, livre, adulta, solteira, pago minhas cachaças. Quando é homem bêbado ninguém nem pergunta, mas mulher tem que viver numa áurea de castidade para merecer ser respeitada", desabafou Clara, que já tinha sido vítima de outra violência sexual quando tinha 13 anos.

A escritora relatou o ocorrido à Uber, mas afirma que não prestou queixa à polícia e não sabe se o fará. "Não sei, não confio na polícia. Quantas mulheres são assassinadas e têm BO [boletim de ocorrência], têm medida protetiva contra o cara. Quem diz que eles [a polícia] vão prender ele. Ele sabe onde eu moro", afirmou.

Clara conta ainda que pensou muito antes de postar seu relato no Facebook, mas agora que o caso ganhou repercussão quer usar isso para ajudar outras pessoas. Criamos a #meumotoristaabusador porque não é um caso nem dois. Estou tentando, com alguns amigos, reverter essa repercussão para algo que possa conscientizar os homens e confortar mulheres, para que elas saibam que não é culpa delas".

"Isso que me aconteceu, aconteceu com mais um monte de mulher ontem, com certeza. O meu caso teve repercussão porque sou escritora, tenho seguidores em rede social, mas tem um monte de mulher que não tem, e elas têm vergonha de contar, da questão do álcool. A pessoa pode estar trançando as pernas, depois de três garrafas de whiskey que a culpa ainda é do agressor".

Desde 2009, a lei 12.015, sobre estupro, foi alterada e passou a considerar como estupro, além da conjunção carnal, qualquer ato libidinoso.

Procurada, a Uber afirmou que "repudia qualquer tipo de violência contra mulheres. O motorista parceiro está banido e estamos à disposição das autoridades competentes para colaborar com as investigações. Acreditamos na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência contra a mulher".

CRIMES SEXUAIS

No Estado de São Paulo, 30% das 272 mulheres mortas nos seis primeiros meses deste ano foram vítimas de maridos e companheiros, segundo dados da secretaria de Segurança Pública tabulados pelo "SPTV", da TV Globo.

Já em todo o país, ao menos 29% das mulheres afirmaram ter sofrido violência doméstica física, verbal ou psicológica em 2016, de acordo com pesquisa realizada este ano pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O estudo projetou que 503 mulheres foram vítimas de agressões físicas a cada hora no Brasil e que dois a cada três brasileiros (66%) presenciaram uma mulher sendo agredida física ou verbalmente no mesmo período.

A pesquisa mostrou que mais mulheres pretas (32%) e pardas (31%) relataram violência nos últimos 12 meses do que as brancas (25%).

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER - Estimativa aponta 503 vítimas de agressão física a cada hora em 2016

MOTORISTAS SUSPEITOS

Denúncias como a de Averbuck contra motoristas do aplicativo já foram analisadas neste ano pela Folha nos boletins de ocorrência registrados no Estado de São Paulo.

Foram verificadas 1.120 queixas nas quais aparece a palavra "Uber", feitas entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2017 e obtidas pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação. Dessas, 684 tinham relação direta com o aplicativo, que domina cerca de 90% desse tipo de serviço na cidade.

A maior quantidade de registros se refere a roubos, furtos e sequestros-relâmpago (319), conflitos com taxistas (153) ou acidentes de trânsito (135). Na maioria dos casos, os motoristas do aplicativo foram vítimas de crimes.

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MEDIDAS PREVENTIVAS

Verifique se modelo, cor e placa do carro e foto do motorista batem com o informado no aplicativo.

Espere o motorista te chamar pelo nome (não o chame primeiro) para ver se é o carro certo.

Cheque se há mais de uma pessoa no veículo antes de entrar.

Em caso de mulheres, para escapar do assédio

Peça por motoristas mulheres, se houver esta opção.

Ao fazer o pedido, mande foto da tela com os dados do motorista para conhecidos.

Compartilhe a rota com amigos ou parentes.

Se perceber algo de errado, ligue ou finja estar ligando para alguém e avise onde está.


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