Folha de S. Paulo


Evento para vacinação de pets em SP vai de política a desfiles de raças

O plano era chegar à praça Charles Miller, na região central de São Paulo, acompanhado de dois cães. Foi abortado. Afinal, o prefeito João Doria (PSDB), segundo ele próprio, precisava "ficar com uma das mãos livres". Assistiu-se, então, a um festival de acenos, selfies e abraços no tucano. Entre os cinco animais de estimação da família Doria (três samoiedas, um maltês e um pastor-branco-suíço), a escolhida para desfilar no evento, Lola, esbanja pelagem macia e densa, característica da raça de origem siberiana samoieda, cujo filhote pode chegar a R$ 4.000. No palanque, Doria chegou a ser anunciado como "presidente". Ato falho, alegaram logo em seguida. Aquele público, no entanto, parecia mais atento aos bichos do que a pretensões políticas.

Indiferente à cena de marketing, o basset hound Tobi, 4, olhos e orelhões escorridos pelo chão, demonstrava, assim como sua dona, vontade de voltar para casa. Ele ansiava pela refeição preparada por Sandra Lopes Brandão, 42 –ela até fez um curso especial de como elaborar a papinha natural de seu cão.

Agora, comilão, mesmo, é o dog alemão Dark, de apenas um aninho, maior que a própria dona, Rosana Thomazini, 28. O animal consome 1 kg de ração por dia. De porte gigante, carece de uma sesta mínima de uma hora após bater um rango.

Ali na SP Animal, evento da prefeitura em parceria com a iniciativa privada, além de política, teve vacinação antirrábica, microchipagem e RGA (registro geral animal). Houve, porém, quem preferiu se misturar a outras raças sem pedigree e agir discretamente. Caso de Júnior, 2, exemplar raro da raça mala chow, que pode alcançar a cifra de R$ 15 mil.

Com duas cirurgias no estômago e outra na vesícula, Nietzsche, 11, um idoso buldogue inglês, apesar dos problemas de saúde, estava lá, na manhã deste domingo (27), esbanjando simpatia. Segue à base de uma dieta balanceada, uma batelada de medicamentos e doses de carinho.

De olhar hipnotizante, Cristal, 6, veio de longe, Guaianases (no extremo leste), atrás da microchipagem. Na fila de espera, o dono do gato persa, Enzo Aquino, 12, tentava manter o bichano calmo, enrolado num pano de seda, em um ambiente dominado pela cachorrada.

Em frente ao estádio do Pacaembu fazia sol de verão. Priscila, 29, e a mulher dela, Kathrein Pires, 36, revezavam-se na tarefa de manter Madonna sempre hidratada. A yorkshire que "nasceu pop star" cinco anos atrás, além de homenagear a rainha pop, idolatrada por Priscila, foi presente de casamento.

Agora se tinha alguém na multidão que não desgrudava as mãos do seu bicho era Pedro Carlos de Araújo, 65. Totalmente cego, ele depende da ajuda do cão-guia, a labradora Boo, 10. "Andamos 2 km por dia", diz, sorrindo.

A 50 passos dali, Keizy Menegatti, 9, não continha as lágrimas. Queria tirar das mãos da mãe, Débora, e carregar em seus braços, Max, o cão sem raça definida de três meses achado no lixo. "Quando chegou em casa, ele não tinha dente. Nem pelo. Pouco importa a raça. O que me interessa é que ele está vivo. E forte!"


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