Folha de S. Paulo


Rio de Janeiro registra o 100º policial militar assassinado neste ano

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Clique na imagem e saiba as circunstâncias da morte de cada uma das 97 vítimas
Clique na fotomontagem e saiba as circunstâncias da morte de cada um dos 97 PMs

Na manhã deste sábado (26), chegou aos três dígitos o número de policiais militares mortos em ações violentas no Rio em 2017. O centésimo nome da lista foi o do segundo sargento Fabio José Cavalcante e Sá, 39, baleado na frente do pai, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.

Sá pretendia visitar os pais, que têm uma loja de gesso na cidade. Mal havia desembarcado do carro quando foi abordado por um grupo de homens armados, que chegaram de carro, atirando contra ele. O segundo sargento foi baleado por mais de dez tiros, entre eles, um de fuzil, na cabeça. De dentro da loja, seu pai assistiu à cena. Sá chegou a ser levado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Nilo Peçanha, em Duque de Caxias, mas não resistiu.

Ele estava na PM havia 18 anos. Era lotado no 34º Batalhão da PM (Magé). Era casado e tinha um filho. Foi candidato a vereador em São João de Meriti pelo PR nas eleições municipais de 2016. Com 1.090 votos, ficou com a segunda suplência.

As circunstâncias em que o sargento foi baleado parecem ser típicas do perfil de mortes de PMs no Estado: fora de serviço, no fim de semana e na Baixada Fluminense, região que concentra muitas dessas mortes.

Divulgação
Sargento José Cavalcante e Sá, baleado com um tiro de fuzil na porta de casa, na Baixada Fluminense
Sargento José Cavalcante e Sá, baleado com um tiro de fuzil na porta de casa, na Baixada Fluminense

A PM trata o caso como latrocínio –Sá teria reagido a uma tentativa de assalto. A Polícia Civil, que investiga o caso por meio da Divisão de Homicídio da Baixada Fluminense, diz que ainda é cedo para dizer o que teria motivado a morte.

Além de concentrar parte expressiva das mortes de policiais militares e de mortes violentas em geral, a Baixada também tem um histórico de mortes associadas à política. Nas últimas eleições, ao menos 14 pessoas ligadas a campanhas foram mortas.

Conjunto de 13 municípios, com 3,7 milhões habitantes, na região metropolitana, a Baixada tem territórios dominados por traficantes e também por milícias, grupos paramilitares formados por policiais, bombeiros e civis, que exploram serviços como gás e TV a cabo.

Em 2017, o Estado teve um PM morto a cada dois dias. A grande maioria (59) morreu em folga, como o segundo sargento Sá. Especialistas apontam uma série de hipóteses para isso.

A série da estatística policial, iniciada em 1994, mostra que o problema da vitimização policial é antigo. No entanto, agora, todos os fatores que levam à morte de policiais foram exacerbados com a crise econômica que deixa um rombo de R$ 21 bilhões nos cofres fluminenses e uma série de servidores e pensionistas com vencimentos atrasados.

No Estado, homicídios e roubos em geral também estão em alta. PMs são vítimas frequentes de assalto e, por andarem armados, são mortos ao reagirem ou serem identificados.

Muitos PMs costumam fazer os chamados bicos, trabalhando principalmente como seguranças privados, para complementar suas rendas.

O Regime Adicional de Serviço, que permite que policiais militares e civis trabalhem na folga para as próprias polícias, complementando a falta de efetivo, não é pago desde setembro do ano passado. Policiais também não receberam o 13º salário.

Também há aqueles que atuam no crime e morrem em decorrência de conflitos, em acertos de conta.

POLICIAIS MILITARES MORTOS NO RIO EM 2017 - Até 14 de agosto

HISTÓRICO DE Pms MORTOS NO RIO -

TERRORISMO

O número redondo de 100 mortes provocou reações das autoridades.

O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que não costuma se manifestar sobre mortes de policiais, divulgou nota de pesar e pediu o endurecimento da legislação penal. "Um criminoso que porta fuzil e mata policial deve ser tratado como terrorista".

A secretaria de Segurança disse que "segue envidando esforços no sentido de preservar a vida de todos, incluindo as dos policiais" e lembrou que a a Divisão de Homicídios, da Polícia Civil, tem núcleo específico para investigação de mortes de policiais.

O comandante da PM, coronel Wolney Dias, divulgou um texto intitulado "Não somos números, somos cidadãos e heróis", no qual lamenta a morte do sargento e questiona o papel da sociedade nas causas da violência.

"A Polícia Militar não é a responsável pelo controle das fronteiras e pela investigação do tráfico internacional de armas, tampouco pela reforma de leis penais. Também não pode ser responsabilizada pela crise econômica e pela falta de investimento em projetos sociais. Mas cabe à Polícia Militar enfrentar os efeitos de todos esses indutores de violência. Somos a última barreira entre a ordem e o caos."

Em homenagem às vítimas, os presidentes de tribunais do Estado determinaram o hasteamento dos pavilhões das instituições a meio-mastro por três dias.

A Defensoria Pública divulgou nota dizendo que "faz-se urgente uma séria avaliação da política de segurança pública adotada até aqui, que deixa vítimas de todos os lados: sem vencedores, apenas vencidos".

VIOLÊNCIA GERAL - Mortes violentas no Estado do Rio no 1º semestre de cada ano*


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