Folha de S. Paulo


Naufrágio no PA ainda pode ter sobreviventes, diz Corpo de Bombeiros

Ainda pode haver sobreviventes desaparecidos do naufrágio de uma embarcação com 70 pessoas no oeste do Pará na noite desta terça-feira (22). É essa a avaliação do coronel Augusto Lima, subcomandante geral do Corpo de Bombeiros Militar do Pará, que está a cargo das operações de resgate. O acidente aconteceu a 500 metros da margem do rio, segundo o militar, o que facilitou que os sobreviventes chegassem a terra firme.

"As buscas continuam em profundidade e em superfície. É um local de difícil comunicação. Das três aeronaves que encaminhamos ao local, uma é só para estabelecer um centro de telecomunicações."

Até esta noite, 24 pessoas tinham sido resgatadas e 10 corpos foram encontrados –entre eles, um adolescente de cerca de 15 anos e uma criança com idade entre um e dois anos. O barco Comandante Ribeiro saiu de Santarém com destino a Vitória do Xingu, onde fica o porto mais próximo para passageiros que vão à cidade de Altamira.

Por volta das 18h30, segundo o coronel Lima, o barco aportou em Porto de Moz, e o acidente aconteceu cerca de 40 quilômetros adiante, por volta das 21h, próximo à praia do Maruá, num local conhecido como Ponta Negra.

Após o barco deixar a cidade, uma tempestade se formou na região. Ela é tratada como a principal causa do naufrágio.

ACIDENTE

Os bombeiros estimam cerca de 70 passageiros na embarcação, um dos principais meios de locomoção pelo interior do Pará, onde, em muitos casos, a única maneira possível de viajar é cruzando rios. É comum que esses barcos viagem acima da capacidade máxima permitida, dizem moradores da região, sobretudo por onde o barco passava, onde a fiscalização é difícil. A Marinha diz que autua barcos com excesso de passageiros, e que as multas podem variar entre R$ 80 e R$ 3.200.

Naufrágio no rio Xingu

O acidente registrado nesta terça ocorre 20 dias após outro naufrágio no Pará, que ocorreu no rio Amazonas, com nove desaparecidos. Em 2015, outro navio afundou com 5.000 bois vivos no nordeste do Estado.

"Os barcos são as nossas ruas. Tem barco-motor o dia todo passando para um lado e para o outro, é muito comum. É como o trânsito de São Paulo, batidas acontecem. É muito grande o fluxo de navios, barco a motor, lancha. Não tem como não acontecer acidente", afirma o coronel Lima.

Equipes do governo montaram uma sala de comando em Belém e uma sala de operações na Câmara Municipal de Porto de Moz, onde atuará o Centro de Perícias Científicas, para determinar as causas do naufrágio.

TEMPESTADE

O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) detectou um intenso deslocamento de nuvens saindo de Altamira em direção a Porto de Moz no início da noite desta terça, quando o naufrágio aconteceu.

De acordo com José Raimundo Abreu e Souza, coordenador do instituto, imagens de satélite detectaram na região a presença de nuvens do tipo cúmulo-nimbo, que são conhecidas por causar tempestades. Elas têm extensão vertical de alguns quilômetros e geralmente ganham grande volume a partir do choque intenso entre massas de ar quente e frio.

Ao perder calor e umidade dentro de uma "nuvem de tempestade", o ar se torna pesado e desce em forma de vento –que, ao bater no chão, se irradia e causa destruição por onde passa. "As nuvens cúmulo-nimbo causam chuvas severas e nada uniformes com ventos que chegam a atingir 80 km/h", diz o coordenador do Inmet.

Em Porto de Moz choveu 14 milímetros entre 20h e 23h de terça, segundo o instituto. A velocidade do vento na região não foi medida porque o Inmet não possui equipamentos que fazem esse tipo de registro.


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