A grande casa cor-de-rosa e o pé de camélia branca em sua frente eram xodós da moradora centenária Virgínia Bastos de Mattos, na cidade de Capivari, interior paulista.
Já dentro do imóvel a parte favorita dela era seguramente a seção de poesia da abarrotada biblioteca que encheu ao longo de décadas com o marido, Carlos Mattos.
Nascida em São Paulo, Virgínia chegou a Capivari nos anos 1940 após assumir um romance considerado adverso, já que Carlos era monge e ela sua aluna na Faculdade de Filosofia de São Bento.
Ele deixou a batina, e ela, os planos de voto de castidade, e iniciaram o casamento que durou mais de meio século.
No interior de SP, Virgínia cuidava da casa e dos filhos, mas também ajudava o marido nas traduções de francês e recitava poesias nos encontros que o casal promovia para amigos. Seu gosto poético também aparecia nas várias cartas que ela escrevia aos conhecidos. Caixas e mais caixas que filhos e netos guardam ainda hoje.
Com a morte do marido, em 1993, ela desabrochou um pouco mais. Começou a viajar e a escrever. Publicou um livro sobre o escritor capivariano Léo Vaz e outro sobre nomes de ruas de Capivari.
Tímida, de poucas palavras, Virgínia tinha passatempos curiosos, passados para toda a família, como buscar origem de palavras e genealogia de pessoas conhecidas.
Morando sozinha, continuou em sua casa cor-de-rosa, admirando as camélias, até o último dia 13, quando morreu aos 101 anos em decorrência de uma pneumonia. Deixa cinco filhos, dez netos e oito bisnetos.
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