Folha de S. Paulo


Hugo Ibarzábal (1938-2017)

Mortes: Um argentino mestre das empanadas em SP

Em um apartamento alugado na zona sul de São Paulo, Hugo Ibarzábal tentava definir que rumo seguir após deixar a Argentina exilado pela ditadura. Nunca tinha trabalhado em cozinha, mas as empanadas eram uma sugestão recorrente entre os amigos.

O teste foi feito na visita do papa João Paulo 2º à capital paulista, em 1980. Colocou 200 salgados no fusca de um colega e seguiu para o centro da cidade, por onde passava o religioso. Vendeu todas.

Animado, alugou um boteco na Vila Madalena e abriu o Martín Fierro. Das 500 empanadas feitas para o primeiro dia, não vendeu nenhuma.

Demorou, mas o local vingou e virou referência numa região muito diferente do badalada Vila Madalena de hoje. Passou a ser chamado apenas de "Empanadas" pelos estudantes, professores e intelectuais que o frequentavam.

Nas décadas seguintes, Hugo e a mulher, Alejandra, venderam e abriram novos restaurante, mas sempre com a culinária argentina como base. O jeito meticuloso de Hugo também não mudou. Quieto, concentrado, não gostava de ser interrompido na cozinha, o que poderia render um palavrão, brinca a sócia e seu braço direito Laurane.

Além das empanadas, distribuía dicas sobre Buenos Aires. Eram tantas sugestões e mapas desenhados, que passou a xerocar, já pensando no próximo cliente. O material virou depois um guia de viagem.

Mas Hugo não dava só dicas, eram muitas as histórias compartilhadas sempre que sentava com uma taça de vinho. Parou só no dia 14, quando morreu, aos 78 anos, já com a saúde debilitada. Deixa mulher, amigos e muitos clientes.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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