Folha de S. Paulo


Emília Ana Ferreira Mac Dowell (1937-2017)

Mortes: Jornalista, Emiliana aposentou as cuecas nas gráficas

Reprodução/Facebook
Emília Ana Ferreira Mac Dowell (1937-2017), em caricatura de Dino (1961)
Emília Ana Ferreira Mac Dowell (1937-2017), em caricatura de Dino (1961)

Nos anos 50, a indústria ainda não tinha desenvolvido exaustores tão eficientes quanto os de hoje. As gráficas eram saunas barulhentas que obrigavam os operários a trabalhar de cuecas.

Na "Tribuna de Santos", um acontecimento totalmente desvinculado da evolução tecnológica instituiu o uso de bermudas: a contratação das duas primeiras mulheres da redação do jornal, que iam ter com os gráficos sempre que tinham que fazer um ajuste de texto ou de diagramação.

Uma era Patrícia Galvão, a Pagu, renomada escritora modernista. A outra era Emiliana Ferreira, de 17 anos.

Emiliana se oferecera para trabalhar de graça no jornal e lá ficou até 1963. Fez de tudo um pouco, mas destacou-se na crônica social –rejeitava o termo "coluna", pois achava que o colunismo da época se limitava a anunciar jantares e noivados – e na direção do suplemento feminino –outra cisma sua: em vez de ensinar receitas para donas de casa, preferiu investir em conteúdo cultural.

"Ela sempre nos dizia: 'não casem! Ou bem têm uma carreira, ou bem têm filhos'", diz a filha, Claudia.

Não deixava de ser uma contradição: depois de se casar, Emiliana abandonou a redação (por vontade própria). Colaborou esporadicamente com o jornal depois, como crítica de cinema.

Se dizia afilhada de Sant'Ana. Para Claudia, nada mais simbólico: em sua representação mais famosa, a santa aparece como tutora da Virgem Maria. "O patrimônio que nos deixou foi o conhecimento."

Morreu de causas naturais, aos 79 anos, no último dia 31. Deixa três filhas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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