Folha de S. Paulo


Dirce Ignês Pereira Leite (1927-2017)

Mortes: De requintes súbitos, deu aulas para crianças excepcionais

Arquivo Pessoal
Dirce Ignês Pereira Leite (1927-2017)
Dirce Ignês Pereira Leite (1927-2017) foi professora de crianças excepcionais em Minas Gerais

O educador Anísio Teixeira foi um democrata notório, que fez da igualdade uma de suas principais bandeiras. Se a Escola Nova foi uma cruzada contra a elitização, o mesmo não se pode dizer das regras de etiqueta da sua casa em Salvador (BA).

Nos anos 50, com o objetivo de difundir seu projeto pedagógico, Teixeira hospedava normalistas de todas as origens geográficas e sociais. À mesa, no entanto, não se admitia tanta pluralidade: até para chupar laranja as moças tinham que usar garfo e faca.

A mineira Dirce Ignês Pereira Leite, filha de alfaiate, era a salvadora improvável das colegas nessas ocasiões. "Ela era muito simples, mas às vezes revelava certos requintes súbitos e inesperados" diz o enteado Alcino.

A sofisticação quase secreta de Dirce se revelava nos detalhes, em peças de porcelana sobre os móveis de sua casa ou nas joias delicadas que usava.

Pedagoga e professora primária, dedicou-se ao ensino de crianças excepcionais durante a maior parte da vida.

A escolha profissional a desencaminhou do destino de tia solteirona, quase inevitável à época. Aos 43 anos, foi cortejada por um farmacêutico viúvo durante um congresso da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) em Lambari (MG). Casou-se com Alcino pai e levou o enteado adolescente de brinde.

Dinâmica e inteligente, era exímia cozinheira –toda a culinária mineira fazia parte do seu repertório. Lia muito, em especial autores de sua juventude, como Érico Veríssimo e Cecília Meireles.

Morreu em 31 de julho, aos 90, em decorrência de uma insuficiência cardíaca. Deixa o enteado e três irmãs.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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