Folha de S. Paulo


Prefeitura faz operação de retirada de sem-tetos na região central de SP

A Prefeitura de São Paulo faz uma operação de retirada de sem-tetos debaixo do viaduto Júlio de Mesquita Filho, na região da Bela Vista, centro de São Paulo, na manhã deste sábado (29).

Ao menos 200 homens da Guarda Civil Municipal participam da operação, que começou por volta das 6h.

Segundo a GCM, os moradores estão deixando o local pacificamente. Mais cedo, eles atearam fogo em madeira. Ao menos cem famílias moram em barracos construídos no local.

Outras três vezes a GCM fez operações na região para retirar, mas eles retornaram.

Os sem-teto reclamaram que a GCM chegou de forma truculenta à ocupação, que existe no local há pelo menos três anos.

A vendedora autônoma Angela de Assis, 22, que mora no local há um ano, falou que os moradores não receberam nenhum documento informando que teria a reintegração de posse.

Segundo Angela, ontem as assistentes sociais estiveram no local e disseram que seria feita apenas a limpeza com água. "Hoje chegaram com cachorros e levaram tudo o que a gente tinha, nos trataram como lixo" disse Ângela, irritada.

Por volta das 7h30, ao menos quatro caminhões com entulho já tinham deixado o local. Dois carros estacionados na rua, ao lado do incêndio, foram atingidos pelo fogo.

A desempregada Sandra Paes Ribeiro, 24, mora há dois meses na ocupação com os filhos de seis anos e dez meses. Ela disse que foi acordada com o barulho da retroescavadeira. "Às seis horas tinha uma assistente social que falou para a gente ir para o abrigo", falou Sandra, que não sabia para onde ir com os filhos.

Sandra reclama que não deixaram nem o pessoal da prefeitura falar o que iam fazer e colocaram fogo em tudo. " O pessoal não pensou e colocou fogo nos barracos, quando viram que estavam tomando tudo", disse.

Segundo a CET, devido a ocorrência na rua Major Diogo, houve interdição parcial do trânsito em ambos os sentidos.

Até às 8h a reportagem da Folha não tinha encontrado nenhum assistente social no local.

A subprefeitura da Sé disse que em princípio seria uma operação de limpeza para retirar papelão e madeira em excesso.

No entanto, no local há retroescavadeiras derrubando os barracos. Enquanto alguns moradores estão sentados na calçada tomando conta dos poucos objetos que sobraram com a operação, como roupas, cobertores, cadeiras e colchões.

`````OUTRO LADO PREFEITURA

O subprefeito da Sé Eduardo Odloak falou que as equipes da prefeitura foram ao local da ocupação para fazer um trabalho de limpeza e zeladoria, por volta das 6h.

Quando as equipes da prefeitura chegaram ao local o subprefeito disse que as pessoas começaram a colocar fogo em papelão e madeira, que se espalhou rapidamente. Um homem suspeito de provocar o incêndio foi preso.

"Os caminhões pipa que estavam aqui para a limpeza foram fundamentais no controle do fogo", disse.

O subprefeito disse que as assistentes sociais atenderam os moradores durante toda a sexta-feira (28) Também foram disponibilizadas vagas em abrigos e locais para guardar seus pertences.

Segundo o subprefeito, algumas famílias assinaram declarações assumindo a responsabilidade de ficar nas ruas com as crianças. Duas das declarações mostradas à reportagem da Folha foram assinadas por volta das 20h30 de sexta.

Neste sábado, Odloak disse que cem pessoas da zeladoria da prefeitura regional da Sé estavam no local da operação abordando as pessoas, enquanto outras equipes da retiravam papelão e madeira.

"A gente não tinha ideia que iam colocar fogo em tudo", disse o subprefeito.

O subprefeito também disse que está negociando a permanência da GCM no local para evitar nova ocupação. Os moradores disseram que vão reconstruir os barracos.


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