Folha de S. Paulo


Prédio art déco do INSS em São Paulo não tem destino certo há 40 anos

Há quarenta anos, o gigante art déco da avenida Nove de Julho começou a ser esvaziado. Já em 1975, o INSS começou a despejar os últimos inquilinos para transformá-lo em prédio de escritórios –algo que nunca aconteceu.

Vazio nos anos 80, teve sua primeira grande invasão há vinte anos, quando mil pessoas do chamado Fórum de Cortiços ocuparam o prédio em 1997. Várias reintegrações de posse, sucedidas por novas invasões, revezaram-se nos últimos vinte anos, enquanto o prédio se deteriorava.

Em 2004, um incêndio destruiu parte da fachada e áreas internas e o governo federal até chegou a anunciar um projeto de conjunto habitacional ali em 2006. A ideia foi para a gaveta profunda de boas intenções dos governos, e em 2015, o INSS repassou o edifício à prefeitura para quitar dívidas com o município.

Continua sem reforma, servindo de habitação precária e insalubre para centenas de pessoas. Por isso, ações necessárias de restauro e manutenção provavelmente estourariam qualquer orçamento, seja dedicado à habitação popular, ou o condomínio de eventuais moradores. Outros usos ou a venda do edifício não foram aventados em trinta anos de ociosidade.

O INSS tem 56 imóveis sem uso na capital, segundo dado obtido via Lei de Acesso à Informação após tentativas de obtê-lo junto ao órgão.

O prédio foi construído entre 1940 e 1943 para ser a sede paulistana do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas, o IAPETC, criado pela ditadura Vargas.

No térreo e primeiro andar, ficavam os escritórios de atendimento ao público, além da administração; nos dois andares seguintes, havia berçário, playground e 46 consultórios para os segurados; do 4º ao 14º andar, ficavam 67 apartamentos para locação. No 11º, onde começava o recuo dos andares superiores, havia uma pérgula com terraço, o solarium da época. Como aconteceu com diversos outros empreendimentos habitacionais varguistas, as unidades acabaram sendo alugadas para a elite do próprio instituto.

O IAPETC foi projetado por um dos maiores arquitetos de São Paulo à época, Jayme Fonseca Rodrigues, que fez a transição do art déco com influência americana para o modernismo. Ele também projetou casas na rua Ceará, em Higienópolis, e o edifício Celina, na rua Rio de Janeiro -obras encomendadas por sua família. Morreu em 1946, com 41 anos, sem ver pronta sua obra mais conhecida, o modernista edifício Sobre as Ondas, em Guarujá.


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