Folha de S. Paulo


Com reparo precário de semáforos, gestão Doria espalha cones por SP

Bruno Santos/Folhapress
Bloqueio no cruzamento da rua Helvétia com a avenida Rio Branco, no centro de São Paulo
Bloqueio no cruzamento da rua Helvétia com a avenida Rio Branco, no centro de São Paulo

Há quase seis meses sem contrato de manutenção de semáforos e em meio ao apagão constante desses equipamentos, a cidade de São Paulo, sob a gestão João Doria (PSDB), teve uma proliferação de cones e cavaletes para bloquear cruzamentos.

O que seria um recurso emergencial e temporário da CET (Companhia Engenharia de Tráfego) já se consolidou no cenário fixo de ruas locais a grandes avenidas centrais, como a Rio Branco, ameaçando motoristas e pedestres.

Por lá, num trecho de apenas 700 metros, mesmo com a presença de corredor de ônibus, quatro vias transversais eram bloqueadas nos últimos dias por cones e cavaletes devido à pane semafórica.

"Por aqui, se o semáforo funcionar, os motoristas até se espantam. Estão acostumados a passar reto mesmo", afirma Carlos Silva, 60, operador de estacionamento.

Além de inviabilizar a travessia em alguns momentos, a desordem no trânsito se espalha: motociclistas fazem manobras bruscas para desviar de cavaletes; até um carro da Polícia Civil foi visto pela reportagem subindo no canteiro central para driblar a sinalização improvisada.

"Parece que a prefeitura prefere colocar um cone em vez de arrumar o problema", desabafa o taxista Claudinei dos Santos, 38, diante da mesma situação perto dali, no largo do Arouche (centro).

"Vira e mexe alguém chuta o cone, joga pra lá. A gente vai e coloca ele no lugar de novo", diz Carmelita Nunes, 32, funcionária de uma banca de jornal, sobre o cone que substitui há meses o semáforo na esquina da rua das Palmeiras com a Martim Francisco, em Santa Cecília, no centro.

Até na Jacu-Pêssego (zona leste), uma das dez avenidas com mais mortes no trânsito em 2016, havia bloqueio com cones e cavaletes da CET na altura da rua São Francisco do Piauí para desviar os ônibus na última semana.

"A avenida é muito movimentada, e nesse trecho não há radares. Motorista e pedestre têm que disputar espaço para atravessar", reclamava a empresária Helma Zaia, 42.

TROPEÇOS

A gestão Doria diz que a contratação dos serviços de manutenção dos semáforos está a caminho, mas não fixa prazo para a retomada dos trabalhos e diz que a situação é agravada pelo furto de cabos.

O primeiro edital foi divulgado pela CET apenas em março –a cidade já vivia problemas diários com semáforos desligados desde janeiro. O valor estimado da contratação era de R$ 67 milhões.

O processo, porém, sofreu 13 questionamentos do TCM (Tribunal de Contas do Município) e acabou suspenso. Entre as falhas, a falta de detalhamento dos serviços prestados e como eles seriam pagos.

TIPOS DE SEMÁFORO - Existem 6.387 aparelhos na cidade de São Paulo

Após mudanças na licitação, a gestão Doria organizou na última semana um pregão eletrônico. Mas uma falha no formulário de preenchimento fez com que a CET cancelasse esse pregão –e anunciasse um novo para 5 de julho.

O especialista em trânsito Luiz Carlos Mantovani Néspoli diz que a utilização de cones alerta ao motorista que "algo não está em conformidade na via" –e, por isso, é melhor do que nada. Mas eles não podem ser encarados como substitutos de semáforos.

"Não há condições humanas de garantir um marronzinho em cada um desses locais. Mas obviamente [cones e cavaletes] não substituem a necessidade do semáforo que controla o direito de passagem de cada um, organiza a fluidez e permite a travessia segura de pedestres."

Nas ruas dos Gusmões e Vitória, os bloqueios com cones tiveram impacto até no fluxo de compradores no comércio de eletrônicos da região da Santa Ifigênia, no centro.

"O cliente que passaria do lado da minha loja, com o bloqueio, vai parar no meio da Santa Efigênia. Fico aqui isolado", disse o comerciante Pedro Luiz de Lima, 57. "Isso é centro de São Paulo, mas a minha rua parece de bairro."

Semáforos com falhas por dia - Entre janeiro e março

OUTRO LADO

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) diz que a utilização de cones em cruzamentos de São Paulo visa alertar os motoristas e evitar acidentes.

Segundo a companhia, isso acontece, na maioria das vezes, em locais com muitos casos de roubo e furto de cabos e controladores (computadores) de semáforos, como no centro.

Nos cruzamentos de maior impacto ao sistema viário da capital paulista, a CET afirma manter presença constante de agentes.

A gestão João Doria (PSDB) disse que assumiu no começo do ano sem um contrato de manutenção da rede e que, "diante do cenário encontrado", preparou um edital de contratação em curto espaço de tempo e com orçamento reduzido.

A companhia de trânsito afirma ainda que mantém 16 equipes próprias em trabalho 24 horas por dia para verificar as falhas "no tempo mais breve possível".

Além da presença dos agentes, a CET disse à reportagem que conseguiu negociar com as prestadoras de serviço do último contrato a prorrogação da garantia de alguns aparelhos da cidade.

Segundo a administração, a futura licitação colocará mais equipes nas ruas. As empresas vencedoras terão até duas horas para chegar ao semáforo com defeito. O tempo de reparo do aparelho, no entanto, dependerá da gravidade do problema detectado.

Editoria de Arte/Folhapress

Cronologia

2013 - Fernando Haddad (PT) contrata reforma de R$ 222 milhões para 80% da rede semafórica

Out.2016 - Início do período de transição das gestões Haddad e João Doria (PSDB)

Dez.2016 - Fim do contrato de manutenção dos semáforos da cidade

Mar.2017 - Após quase três meses sem contrato, gestão Doria lança edital para manutenção

Abr.2017 - TCM (Tribunal de Contas do Município) faz questionamentos que paralisam a concorrência

Jun.2017 - Liberada pelo TCM, prefeitura abre pregão on-line para concorrência, mas ela é cancelada por causa de uma falha técnica

5.jul.2017 - Prefeitura realizará nova rodada do pregão para decidir quais empresas farão a manutenção da rede


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