Folha de S. Paulo


PM usa spray de pimenta em protesto de escola na Lapa, em SP; veja vídeo

Leitor
Alunos da Escola Estadual Romeu de Moraes, na Lapa, protestam contra fechamento de turmas
Alunos da Escola Estadual Romeu de Moraes, na Lapa, protestam contra fechamento de turmas

Uma manifestação com cerca de 40 alunos de uma escola estadual da Lapa, na zona oeste de São Paulo, terminou com o uso de spray de pimenta pela Polícia Militar na manhã desta terça-feira (20). Cinco estudantes, um deles de 11 anos, precisaram de atendimento médico por terem aspirado o gás.

Segundo uma estudante de 16 anos, o protesto contra o possível fechamento de duas salas de aula começou dentro da Escola Estadual Romeu de Moraes, nos últimos horários do turno da manhã.

Após o fim da aula, os alunos decidiram continuar a manifestação interrompendo, por pouco tempo, o fluxo de veículos da rua Toneleiro. A aluna conta que o protesto era pacífico até uma motorista se recusar a parar e avançar em direção aos estudantes.

A Polícia Militar foi acionada pela motorista e, chegando ao local, explicou aos estudantes que uma comunicação prévia do protesto deveria ter sido feita. Um vídeo gravado por um aluno mostra o momento em que um policial militar conversa com os adolescentes e eles se retiram da rua, encerrando a manifestação.

manifestação

Poucos segundos depois, os policiais usam o spray de pimenta em direção à calçada para afastar os alunos. Ali também estavam as crianças que esperavam o portão da escola ser aberto para as aulas do turno da tarde.

De acordo com a estudante, várias crianças e adolescentes passaram mal com o gás. A PM afirma que o gás foi utilizado para evitar acidentes, uma vez que os estudantes "chegaram a entrar na frente de um carro preto".

Ainda segundo o órgão, uma investigação preliminar para "apurar a conduta dos policiais" será instaurada.

O coordenador regional oeste da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Alexandre Fusco, afirma que os PMs entraram na unidade de ensino após acabarem com a manifestação e chegaram a pressionar os alunos que haviam fotografado e filmado a ação.

Em um dos vídeos, um policial militar afirma, dentro da escola, que vai levar os alunos para o hospital. A diretora da escola recusa a ajuda, dizendo que vai chamar os pais das crianças.

MUDANÇA NAS TURMAS

A estudante e o conselheiro da Apeoesp José Bonfim Ferreira do Prado contam que a diretoria de ensino decidiu encerrar duas turmas – uma de 6ª série e outra de 3º ano do ensino médio e transferir os estudantes para outras salas.

Eles relatam que o motivo dado foi o de que as turmas teriam poucos alunos. Os estudantes e o sindicato defendem que as mudanças deveriam ter sido feitas no início ou fim do ano letivo, e que a mudança de turmas no meio do ano prejudica o ensino.

A Secretaria Estadual de Educação afirma que não há fechamento de salas. "Há uma movimentação natural da rede e estudantes da escola pediram transferência para outras unidades de ensino, além da escola estar localizada em uma região de decréscimo de matrículas –comporta 1.120 alunos e atualmente possui 716 estudantes– funcionando 36% abaixo de sua capacidade". Ainda informa que as turmas são abertas de acordo com a demanda.

Segundo Bonfim, os alunos e sindicato farão reuniões nos próximos dias. "Hoje conversamos com o supervisor de ensino e amanhã marcamos uma conversa com a dirigente de ensino e os alunos. Eles precisam deixar essas turmas encerrarem o ano", diz.

Anunciada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) em 2015, a reorganização da rede estadual de ensino provocou uma série de protestos na época. Segundo o governo, mais de 190 escolas no Estado foram ocupadas pelos alunos, em protesto contra a proposta que fecharia mais de 90 escolas e afetaria cerca de 300 mil alunos.

Os estudantes da Romeu de Moraes chegaram na ocasião a tentar, sem sucesso, ocupar a escola. As manifestações obrigaram Alckmin a anunciar um recuo na proposta inicial como forma de encerrar os protestos.

A decisão de diminuir o número de salas de aula agora, para Alexandre Fusco, é parte da mesma política. "Não há motivo para fazer uma lotação máxima, ainda mais em salas em que há alunos de inclusão (especiais), como em uma das do Romeu", afirma. Para ele, salas com menos alunos melhoraria a qualidade do ensino e diminuiriam o desgaste dos professores.


Endereço da página:

Links no texto: