Folha de S. Paulo


Parada LGBT tem muçulmana curiosa e volta da modinha de unicórnio

Juliana Gragnani/Folhapress
Estudante Paulo Peruquetti, 22, na 21ª Parada LGBT de SP, com acessório de unicórnio
Estudante Paulo Peruquetti, 22, na 21ª Parada LGBT de SP, com acessório de unicórnio

Com seu hijab vermelho cobrindo os cabelos, Rasha Al Kardajy, 28, observava na tarde deste domingo (18) a multidão vibrante da 21ª Parada do Orgulho LGBT. "Não sabia que eram tantos!", afirma, sorrindo.

"A festa é tão legal. E é legal também estar aqui, junto, apoiar a diversidade", diz, "embora a religião não aceite". A professora de inglês síria vive no Brasil há três anos e é sua primeira vez na parada. Foi à avenida Paulista para matar a curiosidade, mas não quis ser fotografada pela reportagem.

O que seus olhos viram: milhares de pessoas vestindo a bandeira com as cores do arco-íris, purpurina e pinturas espalhadas em seus rostos, gays, lésbicas, bissexuais e transexuais celebrando a diversidade –unidos neste ano em defesa do Estado laico. E com Daniela Mercury comandando um dos trios na avenida.

Também há, como em outros anos, muitas crianças. "Trouxe meus filhos para ensiná-los a tolerância e para mostrar que eles também são e serão aceitos como forem", diz Vanessa Ongaro, 33, ao lado dos filhos de sete e três anos.

Caminhando sozinho, Guilherme, 20, conta que não é aceito pela família. "É minha primeira parada. Estou aqui sem ninguém da minha família saber, infelizmente. Estou me sentindo estranho e ao mesmo tempo livre", conta, tímido. Ele usa uma tiara com chifre de unicórnio –modinha do Carnaval que voltou com tudo na parada.

Ambulantes vendem o apetrecho por R$ 10. Renato Santos, 27, diz já ter vendido 200 peças.

Uma delas está sobre a cabeça do estudante Paulo Peruquetti, 22. "Gosto bastante porque é bem 'bicha' e eu gosto de ser bem 'bicha'", ri. "Travesti não é bagunça", diz, evocando bordão de uma travesti que virou meme há alguns anos. "Temos que mostrar ao Estado e à população que os LGBTs não estão aqui para serem espancados."

Perto dali, um grupo de amigos góticos dançava Lady Gaga. Para um deles, o psicólogo Fernando Pinheiro, 25, na parada "todo mundo pode se mostrar como é".

CANTO DA CIDADE

O show de Daniela Mercury terminou às 16h25, com seu "O Canto da Cidade" seguido por um trecho do Hino Nacional. O público seguiu dançando ao som de hits como "Despacito" (Luis Fonsi), "Chantaje" (Shakira) e "Deu Onda" (MC G15).

Ernesto Rodrigues/Folhapress
Cantora Daniela Mercury se apresenta na Parada LGBT, neste domingo (18)

Como no Carnaval, a prefeitura instalou banheiros químicos em uma das calçadas da praça Roosevelt para formar um "muro" que impedisse a dispersão para dentro do espaço.

Com as canções do trio da Daniela Mercury encerradas, o silêncio na Roosevelt deu espaço a gritos espontâneos de "Fora, Temer", que duraram cerca de dez segundos.

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