Novas regras da gestão João Doria (PSDB) tornaram mais difícil o acesso dos usuários de drogas da cracolândia, na região central, à estrutura emergencial que oferece cama, refeições e banhos.

Desde a tarde desta quinta (15), usuários que chegam aos contêineres na rua dos Gusmões, próximo à estação da Luz, são informados que só podem entrar após conseguir uma autorização na tenda de atendimento localizada na rua Helvetia, na antiga cracolândia, a cerca de um quilômetro dali. Há 96 leitos.

Desde o mês passado, após uma operação policial do governo Geraldo Alckmin (PSDB), a cracolândia tem novo endereço, a praça Princesa Isabel. Cerca de 900 usuários de drogas e traficantes passam o dia ali. À noite, muitos procuram abrigos, insuficientes para eles na região.

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No vai e vem e com a nova burocracia, muitos perdem tempo e, quando chegam até a tenda para pegar o papel, as vagas já acabaram.

Na tarde desta quinta (15), Glaucia Pires de Arruda, 44, aguardava na calçada da rua dos Gusmões o horário para poder entrar nos contêineres quando foi informada sobre a mudança no esquema. "Ontem não consegui vaga e tive que dormir na rua", diz ela, que tem dificuldade de locomoção após ter sido atropelada há cerca de um ano.

Seu marido, Josiel Nascimento da Silva, foi até a tenda pegar o papel com a autorização para os dois, mas voltou de mãos vazias. "É uma desumanidade o que fazem com a gente", diz ele.

O casal só conseguiu o papel depois que Glaucia foi com dificuldade, apoiada em seu andador, até a tenda.

Ela reclamou das poucas vagas para as mulheres nos contêineres. Do total, 15 estão sendo disponibilizadas para as usuárias. "As vagas acabam muito rápido."

O acesso aos chuveiros, que antes era livre, também ficou restrito. Agora, só quem passa a noite na estrutura pode tomar banho até as 8h. Depois, só é permitido após as 17h30. O jantar começa a ser servido a partir das 19h.

Assistentes sociais atribuem as novas regras à intensa procura por vagas nos últimos dias, o que provocou até "overbooking" por causa de senhas distribuídas tanto nos contêineres quanto na tenda.

Por volta das 17h30 desta quinta (15), quando aumentou a procura por abrigo, havia três assistentes sociais para orientar os usuários a respeito das novas regras. Muitos se irritaram com o desencontro de informações e com a possibilidade de ficar sem ter onde dormir.

A prefeitura prevê mais duas estruturas com leitos para usuários: na rua General Rondon, a menos de um quarteirão da praça Princesa Isabel, e na avenida Rio Branco.

Com a queda da temperaturas e as intervenções de funcionários de limpeza, que usam jatos de água, muitos reclamam da lama na praça. Na quarta (14), houve confusão quando agentes da Guarda Civil Metropolitana interferiam no fluxo de usuários para que dessem espaço à faxina. Usuários e um GCM ficaram feridos. Nesta quinta (15), apesar de atrasar, a faxina ocorreu sem problemas.

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'CONTROLE'

Em nota, a prefeitura diz que os contêineres são "um equipamento novo" e que na quarta (14) "o local ficou aberto até as 21h30 às pessoas que estavam na praça Princesa Isabel e após o horário vagas remanescentes foram ofertadas à população de rua encaminhada pelas equipes de assistência social". A gestão não respondeu sobre a situação do abrigo nesta quinta (15).

Segundo a prefeitura, "a solicitação de encaminhamento permite o controle de suprimentos" e "a medida não é definitiva e pode ser alterada". A nota ainda diz que "nenhum interessado deve ficar sem o acolhimento".

"Assistentes sociais devem auxiliar no cadastro ou, caso as vagas estejam ocupadas, encaminhar para outros centros de acolhida da região."

Segundo a gestão, "não há determinação por gênero" no abrigo. "Esta informação será ratificada junto às equipes."