Folha de S. Paulo


Um em cada três mortos por atropelamentos em SP é idoso

Rivaldo Gomes/Folhapress
Idosa atravessa a estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de São Paulo
Idosa atravessa a estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de São Paulo

Uma em cada três pessoas mortas por atropelamento em São Paulo no ano passado tinha 60 anos ou mais. A informação faz parte do relatório anual de acidentes de trânsito de 2016, divulgado na última sexta-feira (9), pela CET (Companhia de Engenharia de Trânsito), da gestão João Doria (PSDB).

Ao todo, 343 pessoas morreram em 330 atropelamentos no ano passado. Deste total, 114 (33,2%) tinham 60 anos ou mais. O estudo ainda subdivide as faixas etárias dos idosos. Os mortos com mais de 80 anos foram 27. Entre os 70 e 79 anos, foram registradas 43 mortes, e entre os 60 e 69 anos, 44.

Por grupos sociais, os aposentados foram 77 dos mortos por atropelamento (22,4%), seguidos de moradores de rua, que foram 27 dos mortos.

VEJA OS NÚMEROS ATROPELAMENTOS EM 2016 -

Em geral, os atropelamentos representaram 40,2% das 854 mortes no trânsito. "O alto número de atropelados entre os mortos é uma tendência no Brasil como um todo, por conta da falta de políticas de proteção ao pedestre", afirma a urbanista Meli Malatesta, doutora em mobilidade a pé pela USP (Universidade de São Paulo).

Para reduzir esses índices, ela defende a ampliação do tamanho das calçadas e a melhoria delas, a redução da velocidade dos carros e ônibus nos locais de alto fluxo de pedestres, o aumento da quantidade de faixas de pedestres e a ampliação do tempo de travessia nos faróis com muito movimento. "É preciso avaliar se o tempo é suficiente, principalmente para idosos, que andam mais devagar", afirma.

Para Meli, os riscos do trânsito para os idosos devem se tornar cada vez mais uma prioridade. "As estatísticas apontam para um envelhecimento da população e, por isso, esses problemas tendem a se tornar mais graves nos próximos anos", diz. Ela afirma que a crise também obriga mais idosos a trabalhar para ajudar nas despesas das casas, o que os deixa mais expostos a acidentes.

CUIDADO

Apesar de o Código de Trânsito Brasileiro dispor que os motoristas também são responsáveis pela segurança dos pedestres no trânsito, quem anda a pé, principalmente os idosos, deve tomar alguns cuidados para evitar atropelamentos.

Especialista em mobilidade a pé, Meli Malatesta lembra que os idosos precisam ter cuidado redobrado, pois pessoas mais velhas perdem reflexos e parte da visão (especialmente a lateral) e da audição por conta da idade.

Mortos por atropelamentos por faixa etária -

Outra observação importante é sobre o cuidado com os ônibus, que representaram 19,7% dos atropelamentos com mortos na capital. "São veículos pesados e grandes, nos quais o motorista terá mais dificuldade de frear e de desviar do pedestre", diz. Além disso, ela lembra que os coletivos ficam na primeira ou na última faixa de travessia do pedestre. Meli aponta ainda que muitos acidentes acontecem quando as pessoas correm para tentar pegar o ônibus.

DÚVIDA NA TRAVESSIA

Aos 85 anos, o aposentado Arnaldo Garcia Leal percorre a cidade para pegar e retirar documentos para um advogado. Morador da Freguesia do Ó (zona norte), ele caminhava ontem na região da avenida São João e seguiria de ônibus para a rua Boa Vista (centro). "A gente precisa tomar mais cuidado sempre. Sei que não tenho mais a mesma agilidade para atravessar a rua", afirma.

Robson Ventura/Folhapress
O aposentado Arnaldo Leal, 85, diz que é preciso ter cuidado nas travessias urbanas
O aposentado Arnaldo Leal, 85, diz que é preciso ter cuidado nas travessias urbanas

Leal diz que sempre atravessa na faixa de pedestres e que fica na calçada quando o sinal está prestes a fechar ou acabou de abrir, por conta de motoristas que aceleram quando o sinal está amarelo. A aposentada Maria da Graça Lima, 69 anos, que trabalha com eventos, é moradora do centro e diz que a prefeitura precisa ficar mais atenta à manutenção dos semáforos. "Com as chuvas, muitos deles quebram", diz.

No momento da entrevista, o da esquina da São João com a rua Ana Cintra era um dos que falhavam.

ATROPELAMENTOS EM GERAL -

OUTRO LADO

A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, da gestão João Doria (PSDB), afirma que pretende aumentar o tempo de travessia de pedestres nas principais vias da cidade em, no mínimo, 20%. Diz que a mudança já foi feita em maio na avenida Mateo Bei (zona leste) e que outras vias devem receber o programa ainda neste semestre.

A pasta diz ainda que criou programas de conscientização no trânsito e em empresas de ônibus. Sobre a reclamação de pedestres de semáforos quebrados, a CET não se manifestou.


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