Folha de S. Paulo


Cristiane Soares, 33

Tenente ajuda em parto, batiza o bebê e recebe homenagem da PM

Resumo Em 2016, policiais militares fizeram 47 partos no Estado de São Paulo, sempre em circunstâncias adversas onde médicos não conseguiram chegar. Até maio deste ano, já foram 21 casos desse tipo.

A tenente Cristiane Soares, 33, participou de uma dessas ocorrências, em dezembro do ano passado. Em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, o socorro policial chegou primeiro à residência de uma mulher em trabalho de parto. Hoje, a oficial é madrinha de Davi, criança que nasceu por suas mãos.

Bruno Santos/ Folhapress
A tenente Cristiane Soares, 33, da PM de São Paulo
A tenente Cristiane Soares, 33, da PM de São Paulo

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Eu era advogada, mas minha família toda é policial militar, meu pai e meus tios, e eu já havia tentando entrar anteriormente. Tentei de novo e consegui em 2011, fiz a Academia de Polícia Militar do Barro Branco.

Hoje eu sou tenente e sirvo no 17º Batalhão da Polícia Militar, em Mogi das Cruzes. Em 12 de dezembro do ano passado, num dia muito chuvoso, era por volta de meio-dia e eu estava na área central da cidade, com outro policial, o cabo Correa. Recebemos uma ligação via 190 informando que havia uma mulher em trabalho de parto.

Eu fui ao endereço informado. Quando cheguei na residência, ela estava no interior da casa, no banheiro, sentada, e já não tinha condições de nenhum deslocamento para um hospital.
O bebê já estava com a cabeça quase saindo.

O avô da criança estava lá, bem desesperado. "Minha nora está tendo filho e não sei o que fazer", dizia ele. O pai também estava desesperado, estava todo mundo em choque com aquela situação.

A gente iniciou o apoio. Foi a primeira ocorrência desse tipo na minha vida. A questão do nascimento, da vida, é muito marcante. Nós temos aula de pronto-socorrismo e apoio ao parto no curso de preparação para PM, mas nunca tinha passado por isso. Nesse momento foi a hora de por isso em prática.

Eu pedi para ela levantar um pouco, aparei o bebê e pedi para ela se mover mais para frente, de modo que eu pudesse fazer um apoio com luvas e lençóis. A gente teve que improvisar um pouquinho.

Aí nasceu a criança, o Davi. Ele demorou um pouquinho para chorar. Na hora que a gente tirou o cordão umbilical, levantei ele um pouco e só aí ele chorou. Todo mundo ficou aliviado, estava tudo bem com o bebê. Alguns minutos depois, chegaram o Corpo de Bombeiros e médicos do Samu, e levaram a família ao hospital.

Especialmente para mim, que não tenho filhos e passei pela primeira experiência do tipo, foi muito emocionante.

[Em 31 de maio] Como era o mês das mães, a Polícia Militar homenageou seis ocorrências dessas. Foi um momento de reconhecimento, que é muito bom para os policiais.

Eu mantenho contato com o Davi por causa do apadrinhamento, mas policiais de outras partes de São Paulo [foram homenageados agentes de Araçatuba, Guarujá, Campinas, Mogi das Cruzes e da capital] reencontraram aquelas crianças, então foi um momento de muita emoção.

Eu fiquei muito próxima da família e eles me chamaram para ser madrinha do Davi. Temos contato até hoje. A gente manteve o elo mesmo.

O Davi, a criança, tem uma ligação forte com a PM. Ele é neto de um policial, e o pai dele também foi policial militar. E pode-se dizer que foi salvo duas vezes por policiais.

Em janeiro deste ano, a mãe dele estava amamentando quando ele engasgou. Ele teve uma parada respiratória em razão da obstrução de via.

A mãe dele e o avô correram para o pronto-socorro, mas avistaram no meio do caminho uma viatura, também subordinada a mim. Os policiais conseguiram fazer a desobstrução de via e deu tudo certo.


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