Folha de S. Paulo


Após recusar atendimento, médica diz não ser responsável por morte de bebê

Reprodução/Jornal Hoje
Polícia investiga se criança morreu por ter socorro recusado por médica
Imagem de câmera de segurança mostra médica dentro de ambulância

Haydée Marques da Silva, a médica acusada de negligenciar atendimento a uma criança de um ano e meio no Rio, disse em depoimento à Polícia Civil, nesta segunda-feira (12), que não tinha capacidade técnica de lidar com o problema do bebê, por isso se recusou a atendê-la.

Breno Rodrigues Duarte da Silva, que sofria de doença neurológica, morreu enquanto a família esperava por outra ambulância.

"Não sou pediatra, era um bebê com uma síndrome que nem sei de que se trata. Quando há urgência, risco de vida, atendo, mas nesse caso não havia risco de vida, a classificação de risco não foi de urgência, então eu pedi que enviassem outra ambulância", disse a médica ao final do depoimento.

Silva é funcionária da Cuidar Emergências Médicas, que presta serviços à Unimed-Rio.

"Não estou arrependida porque não fiz nada fora do código de ética médico. Estou triste e abalada pelo fato de a criança ter morrido, mas não fiz nada de errado. Pedi outra unidade para atendê-la. A morte não é minha responsabilidade", afirmou.

Para o advogado da família do menino, Gilson Moreira, o argumento da médica não se sustenta.

"Ela tinha sido chamada para um atendimento urgente, na Penha, mas a empresa decidiu abortar este atendimento para que a equipe prestasse socorro imediato ao Breno, então sabia da gravidade. As razões que ela apresenta não têm fundamento."

A família vai processar a Cuidar e a Unimed-Rio para fazê-las pagarem por danos materiais e morais.

Ao final da investigação policial, a médica deve ser indiciada por homicídio doloso.

"É preciso esclarecer se a médica sabia que era um paciente urgente. O código de ética médico diz que é permitido se recusar a atender alguém se o profissional não tem condições técnicas de fazê-lo. Por outro lado, era uma ambulância, que deveria atender todo tipo de coisa", diz a delegada responsável pelo caso, Isabelle Conti.

Segundo o advogado que representa a família, a médica tinha um histórico de mau comportamento. Em um caso, dizem, feriu um paciente durante um exame; em outro, ainda segundo a defesa da família, deixou um idoso sem oxigênio em uma viagem de ambulância até o hospital, agravando o estado de saúde dele.

'ÚLTIMA CHANCE'

Os pais do menino, Rhuanna Rodrigues e Felipe Duarte, também prestaram um novo depoimento à polícia, no qual deram mais detalhes do que aconteceu naquele dia.

"Ela me tirou a última chance. Não tenho como garantir que meu filho sobreviveria, mas tinha uma chance, uma chance de ir ao hospital. Entre o momento em que ela chegou, às 9h, e a hora em que meu filho foi a óbito, às 10h26, teria chegado ao hospital e ele teria sido atendido. Ele teria vomitado [o menino morreu por broncoaspiração, quando o vômito entra pelas vias respiratórias], mas teria outros recursos que o hospital oferece e que em casa eu não tinha", disse Rodrigues, após o depoimento.

Rodrigues criticou o argumento da médica, que fala que não tinha conhecimento técnico para atender o menino por não ser pediatra. "O que meu filho precisava era de um socorrista, e não de um especialista, então ela, como médica, poderia ter atendido ele."


Endereço da página:

Links no texto: