Por 36 anos o médico José Mauro Ceratti Lopes trabalhou na mesma unidade de saúde de Porto Alegre —chegou a tratar até três gerações de uma mesma família. E havia quase três décadas também vivia no mesmo bairro.
Foi com essa proximidade com a comunidade local que Zé Mauro, como era conhecido, tornou-se um dos mais renomados especialistas e disseminadores da medicina da família no Brasil.
É um dos autores do "Tratado de Medicina da Família e Comunidade", o primeiro da especialidade no país, com o qual ganhou o prêmio Jabuti em 2013 na categoria Ciências da Saúde. Implantou uma série de cursos e residências na área e era representante brasileiro na Euract, academia europeia de formadores nesta especialização médica.
Certa vez, conta a filha Bruna, uma paciente, já idosa e católica devota, entrou em seu consultório em prantos porque um padre teria dito que ela não iria mais para o céu depois que sua filha se converteu ao espiritismo.
Zé Mauro só conseguiu acalmá-la depois de escrever, assinar e carimbar o seguinte receituário médico: "Atesto que a senhora tem seu lugar garantido no céu."
Sempre cheio de projetos, segundo a filha, planejava a segunda edição do tratado de medicina da família, pensava em fazer doutorado e até cogitava morar em Portugal, no futuro, onde recebeu propostas de trabalho.
Mas teve o projeto interrompido quando, na última quarta (7), não resistiu a um câncer e morreu, aos 61, após uma parada respiratória. Deixa a mulher, Vivianni, duas filhas, Bruna e Paula, e sobrinhos.
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| José Mauro Ceratti Lopes (1956-2017) |
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