Folha de S. Paulo


Tecnologia nacional permite dirigir na cadeira de rodas e usar o cão-guia robô

Marcelo Justo/Folhapress
Cadeirante entra pela parte traseira do veículo para chegar até a posição do volante
Cadeirante entra pela parte traseira do veículo para chegar até a posição do volante

Uma adaptação veicular que permite que um carro seja dirigido diretamente da cadeira de rodas e um "cão-guia robô" são as mais novas tecnologias nacionais voltadas à inclusão de pessoas com deficiência que acabam de chegar ao mercado.

As inovações devem impactar a vida de pessoas com deficiência física severa, como tetraplégicos, e a de quem tem deficiência visual grave.

O acesso às tecnologias, porém, deve ser restrito devido aos valores elevados de ambas para padrões brasileiros: R$ 45 mil, a adaptação, e R$ 9.000, o robô.

É a primeira vez no país que um carro é totalmente preparado para ser conduzido por um cadeirante com dificuldades de se transferir para o banco do veículo.

Com um controle remoto, o motorista irá abrir a parte traseira do carro, de onde descerá uma rampa. Em seguida, ele embarca e se posiciona com a cadeira de rodas onde estaria o banco do motorista. Um sistema de trava imobiliza a cadeira. Com controle manual de freio e aceleração e câmbio automático, dirige-se normalmente.

"É um projeto de alto custo, que fizemos na raça, sem apoio de nenhum grupo de pesquisa ou de montadoras, mas tínhamos de fazer para atender um público que esperava pelo direito de dirigir e ter mais autonomia havia vários anos", afirma Carlos Cavenaghi, diretor técnico da Cavenaghi, empresa que faz a adaptação.

Segundo o diretor, cerca de R$ 500 mil foram investidos na inovação, que demora cerca de 30 dias para ser implantada no carro.

Para a jornalista Flávia Cintra, que é tetraplégica e foi uma das primeiras a testar o dispositivo na 15ª Reatech (Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade), encerrada domingo (4), a experiência foi "emocionante".

"Me emocionou ao por as mãos no volante e vislumbrar a liberdade que poder dirigir vai me trazer. Já tinha aceitado que não daria. Agora, sei que é possível e passou a ser minha meta principal. É bem caro, mas se precisar pagar em prestações a vida toda, ainda vai valer a pena",diz.

Não existem subsídios governamentais para a compra de equipamentos de adaptação veicular para pessoas com deficiência. Na compra de veículos zero quilômetro de valor até R$ 70 mil, pode haver abatimento de impostos como o IPI e o ICMS.

NÃO LATE

Lysa não late, não tem pelos, não morde e nem abana o rabo, mas tem a intenção de ser um auxiliar a pessoas cegas, com funções parecidas a de um cão-guia.

O robô foi desenvolvido com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e é capaz de detectar, via sensores, obstáculos aéreos, buracos e impedimentos no caminho. Ao captar o problema, ele envia a informação ao usuário por fones de ouvido.

"Queremos oferecer uma ferramenta a mais como opção de orientação aos cegos. Devemos avançar, com um dispositivo de GPS que irá indicar rotas", diz Neide Sellin, idealizadora do robô.

A iniciativa tem sido bem recebida por parte dos cegos. Um cão-guia tradicional no país é ainda caro –custos de treinamento do animal beiram os R$ 40 mil– e há poucas organizações que se dedicam a trazê-los do exterior ou a capacitá-los no Brasil.

Mas há também resistência ao projeto. "O robô não dá a mesma mobilidade que um cão-guia, que não só acha o obstáculo, como desvia dele e conduz para o melhor caminho. Ele também sobe e desce degraus, ajuda no embarque no transporte público e encontra portas e saídas", afirma Daniela Kovács, que é cega e usa cão-guia.

Para ela, o cão também tem função de ampliar a inclusão social, porque cria empatia e aproxima o cego das demais pessoas.


Endereço da página:

Links no texto: