Folha de S. Paulo


Antônio Munhoz Lopes (1932-2017)

Mortes: O censor que se recusou a censurar jornais

Arquivo Pessoal
Antônio Munhoz Lopes (1932-2017)
Antônio Munhoz Lopes (1932-2017)

Era compartilhando o saber com presidiários que Antônio Munhoz Lopes descobriu a sua vocação para lecionar, nos anos 60. Mas ele não estava preso, e sim do outro lado do balcão: era delegado.

Mesmo na posição de autoridade, Munhoz passava horas conversando com presidiários e costumava presenteá-los com livros.

Nascido em Belém, mudou-se para o Maranhão para estudar para ser padre, mas não seguiu na carreira –embora nunca tenha se casado. No final da década de 1950, mudou-se para o Amapá, onde formou-se em direito e fez sua carreira.

Em 1960 começou a dar aulas de língua portuguesa, literatura e latim em escolas e faculdades. A paixão era tamanha que continuou em atividade até mesmo depois de se aposentar. Também ajudou a fundar a Associação Amapaense de Imprensa, em 1963.

Na ditadura militar, foi designado censor, mas se recusou a censurar qualquer jornal. "Podem rodar o jornal que não sou homem de censurar a liberdade", dizia Munhoz, segundo a amiga e ex-aluna Alcinéa Cavalcante. "Ninguém tinha ousadia de ir contra ele", recorda-se.

Tinha o hábito de escrever cartas para conhecidos e colecionava jornais e revistas. Guardava também fotografias de onde ia para mostrar aos amigos. Gostava de viajar pelo mundo e visitar templos religiosos. Era frequentador assíduo de festas, formaturas e eventos culturais.

Morreu no último dia 22, aos 85, após complicações por uma insuficiência renal. Deixa cinco irmãos e centenas de amigos e alunos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: