Era compartilhando o saber com presidiários que Antônio Munhoz Lopes descobriu a sua vocação para lecionar, nos anos 60. Mas ele não estava preso, e sim do outro lado do balcão: era delegado.
Mesmo na posição de autoridade, Munhoz passava horas conversando com presidiários e costumava presenteá-los com livros.
Nascido em Belém, mudou-se para o Maranhão para estudar para ser padre, mas não seguiu na carreira –embora nunca tenha se casado. No final da década de 1950, mudou-se para o Amapá, onde formou-se em direito e fez sua carreira.
Em 1960 começou a dar aulas de língua portuguesa, literatura e latim em escolas e faculdades. A paixão era tamanha que continuou em atividade até mesmo depois de se aposentar. Também ajudou a fundar a Associação Amapaense de Imprensa, em 1963.
Na ditadura militar, foi designado censor, mas se recusou a censurar qualquer jornal. "Podem rodar o jornal que não sou homem de censurar a liberdade", dizia Munhoz, segundo a amiga e ex-aluna Alcinéa Cavalcante. "Ninguém tinha ousadia de ir contra ele", recorda-se.
Tinha o hábito de escrever cartas para conhecidos e colecionava jornais e revistas. Guardava também fotografias de onde ia para mostrar aos amigos. Gostava de viajar pelo mundo e visitar templos religiosos. Era frequentador assíduo de festas, formaturas e eventos culturais.
Morreu no último dia 22, aos 85, após complicações por uma insuficiência renal. Deixa cinco irmãos e centenas de amigos e alunos.
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