Folha de S. Paulo


Moradores resistem, e prefeitura adia estrutura na nova cracolândia de SP

Reprodução/Video
Moradores impedem instalação de contêineres para atender usuários de drogas da praça Princesa Isabel
Moradores impedem instalação de contêineres para atender usuários de drogas da praça Princesa Isabel

A gestão João Doria (PSDB) suspendeu, na manhã desta quarta-feira (31), a instalação de um ponto para atender e acolher os usuários da nova cracolândia, na praça Princesa Isabel, no centro da capital paulista.

O local concentra o maior número de usuários de drogas desde a realização da operação policial na antiga cracolândia, no dia 21.

Uma estrutura com 25 contêineres com chuveiros, banheiros, refeitórios, dormitórios e salas de atendimento ambulatorial e assistencial seria montada em um terreno que pertence à Cohab, na rua General Rondon, a uma quadra da praça. O espaço é murado e a ideia da prefeitura seria derrubar o muro para garantir a circulação e um melhor atendimento aos usuários.

Zanone Fraissat/Folhapress
Terreno próximo da praça Princesa Isabel, que receberá estrutura para atender usuários de droga
Terreno próximo da praça Princesa Isabel, que receberá estrutura para atender usuários de droga

Homens da Guarda Civil Metropolitana chegaram a isolar a área para um trator derrubar o muro do terreno, mas a ação foi cancelada após um tumulto no local. A prefeitura informou que a estrutura deve ser montada nos próximos dias.

Os moradores e comerciantes da rua disseram que não foram avisados e ficaram revoltados com a iniciativa. A prefeitura decidiu cancelar a instalação da estrutura, mas não informou qual medida irá tomar.

"Não fomos avisados de nada", confirmou a aposentada Marlene de Oliveira, 57, que reside na rua general Rondon há 23 anos. Segundo ela, a preocupação é que o espaço de atendimento atraia ainda mais usuários à região. "Os dependentes químicos não estão no seu juízo normal, andam com faca e pela droga podem fazer qualquer coisa. Após a chegada deles aumentou a insegurança por aqui", disse.

Segundo Oliveira, a prefeitura informou aos moradores que os contêineres funcionariam por até quatro meses. "Mas sabemos que isso não vai acontecer. Essa estrutura será permanente e nada será feito para garantir a nossa segurança aqui", disse a aposentada. Um abaixo-assinado de moradores e comerciantes que será encaminhado à prefeitura pede a retirada da nova cracolândia da praça Princesa Isabel.

Outro aposentado, de 75 anos, que pediu para não ser identificado, diz que a estrutura só vai levar mais sujeira e também maior sensação de insegurança.

"Os usuários fazem as necessidades fisiológicas no asfalto e as mulheres tiram a roupa na frente das crianças. Não tem respeito nenhum", afirma o morador. Ainda segundo ele, a prefeitura lava a rua todos os dias, mas a sujeira persiste.

Nesta semana, segundo o morador, a fiação de energia elétrica que abastece a iluminação pública da rua General Rondon foi furtada quatro vezes. "Isso é para facilitar a chegada da droga aqui e ninguém ver", diz.

Cracolândia de SP

RESISTÊNCIA

O trabalho de abordagem aos usuários de drogas tem encontrado resistência. De acordo com dados da gestão Doria, dos 5.900 atendimentos realizados por assistentes sociais na região da Luz desde o dia 21, 2.368 não obtiveram êxito.

Outros 3.532 viciados foram encaminhados para acolhimento na rede assistencial da prefeitura, como o Complexo Prates e o Centro Temporário de Acolhimento (CTA). Desde o início da ação, 92 usuários foram internados por conta própria, afirma a prefeitura.

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página:

Links no texto: