Em fevereiro, Marieta, de 88 anos, olhava para a tela do cinema e enxergava traços de sua própria história. O filme era "Estrelas Além do Tempo", e as três protagonistas lutavam por seus espaços como cientistas em um meio majoritariamente masculino.
Mari, como era conhecida pelos mais próximos, também foi uma pioneira. Nascida em Piracicaba (SP), mudou-se para São Paulo e cursou física nuclear. Iniciou a carreira no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Universidade de São Paulo, fez mestrado e doutorado na França e trabalhou no Ministério de Minas e Energia do governo federal até a sua aposentadoria.
No órgão, integrou a equipe que criou o primeiro ônibus movido a hidrogênio do Brasil, lançado em 2006. O modelo, que circula pelas ruas de São Paulo no corredor São Mateus-Jabaquara, representa uma alternativa não poluente de transporte público para as grandes cidades.
Marieta tinha a independência como marca. Viajou o mundo, morou sozinha a vida inteira, nunca se casou.
Era fã dos restaurantes e vinhos franceses, das artes e do que a mantivesse informada. Vaidosa, sempre exibia seu batom vermelho e cabelos impecavelmente pintados em seus passeios.
Tratava de transmitir tudo para as crianças da família, que a procuravam para contar a trajetória de Mari nos trabalhos de escola. Era a referência, a mulher à frente de seu tempo.
Morreu na última quarta-feira (24), aos 89 anos, por complicações após um infarto. Deixa numerosa família.
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