Para Márcio Proença, suas músicas eram como se fossem filhas. Gostava de todas, sem distinção. Tudo bem se uma ficasse mais conhecida que a outra e pouco importava se não trouxessem dinheiro algum –sem nenhuma vaidade, costumava dizer que seu único compromisso era com a "deusa música". E ele não podia tratá-la mal.
Dono de uma tranquilidade inabalável, falava baixo, andava devagar, nunca levantava a voz. O mesmo ritmo não se aplicava à música: as composições eram feitas em minutos, no violão que sempre levava consigo.
Os acordes e letras do niteroiense ganhavam vida nas vozes de Nanna Caymmi, Beth Carvalho, Gonzaguinha, Alcione. Se quisesse, Márcio poderia ter vivido de música. Não era o caso: seria complicado demais.
Até tentou conciliar os palcos com seu emprego na Advocacia-Geral da União, mas preferia perder shows a um dia de trabalho. Sua única pretensão era compor e, eventualmente, ouvir suas músicas tocando no rádio.
As várias tatuagens, cordões e anéis contrastavam com a personalidade metódica de quem faltava ao trabalho a contragosto mesmo depois do diagnóstico de leucemia, descoberta em 2010.
Não tinha medo da morte e encarou a doença com a mesma serenidade com que encarava todo o resto. Segundo a ex-mulher Adriana, parecia aplicar a tudo o seu lema de não se "incomodar com coisas pequenas".
Aos 73 anos, morreu no último domingo (21). Deixa três filhos, dois netos, dois irmãos e incontáveis músicas.