Folha de S. Paulo


Zelinda Milani Cristófani (1928-2017)

Mortes: desceu do saltinho Chanel para virar rainha

Arquivo Pessoal
Zelinda Milani Cristófani (1928-2017)
Zelinda Milani Cristófani (1928-2017)

Zelinda foi, certa vez, incumbida de levar o padre a um amigo que desfalecia. Deixou sua casa correndo, vestindo sua meia de seda e saltinho Chanel, em direção à igreja. Com pressa, puxou o religioso do confessionário, sendo censurada por ele. "O pecador pode esperar, o moribundo não", respondeu ela.

Essa era Zelinda: resoluta, decidida, irreverente. Sabia e buscava o que queria, sem deixar a discrição e a elegância.

Quando se mudou com a família para Rio Claro, ainda menina, fez questão de manter os estudos na capital paulista. Tudo para deixar, algumas vezes na semana, a nova cidade, que ela não gostava.

Foi assim que estudou piano, prática que abandonou após o casamento. Sem se exercitar como antes, dizia não ter a mesma agilidade.

Para o tricô, no entanto, suas mãos continuavam afiadas. Comprava revistas internacionais para aprender novos pontos, depois transformados em peças de roupa ou sapatinhos de bebê. Fazia 250, 300 pares por mês, que iam para instituições de caridade.

Nos anos 1980, teve um câncer que lhe levou os cabelos, assim como a formalidade. Mas foi a demência senil, que a acometeu nos últimos dois anos, que a libertou de vez.

As meias de seda e roupas de manga deram lugar aos vestidos floridos e ao batom vermelho. Cantando e dançando sem parar, foi eleita rainha do Carnaval da casa de repouso em que vivia, no ano passado. Chorou com o título.

Morreu dia 16, aos 88, após uma infecção. Deixa a filha, o genro e sobrinhos. A missa de 7º dia será nesta terça (23), às 12h, na Igreja N. Sra. do Perpétuo Socorro, Jd. Paulistano.


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