Por onde passava, em Belo Jardim, a 200 km do Recife, Nena Marinho era reconhecida. Seja pelos quase 30 anos de participação ativa na discussão de políticas públicas, seja pelo sorriso fácil e o espírito de liderança.
Filha de pais agricultores, Nena perdeu quatro dos nove irmãos para a extrema pobreza nas décadas de 1960 e 1970.
Aos 16 anos, casada e grávida do primeiro dos cinco filhos, ela dividia o tempo com os grupos de mulheres e de jovens, pastorais e associações de moradores que ajudou a fundar no semiárido.
Com sua postura política, mas não partidária, foi alçada a educadora social e líder comunitária. Explicou a importância da instalação de cisternas aos moradores que mais tarde receberiam água pela primeira vez. Ajudou na construção de planos de acesso à cultura e de combate ao trabalho infantil e participou de diversos congressos sobre igualdade racial e de gênero.
"Sou mulher, negra, pobre e estou aqui" virou marca de seus discursos.
De 2004 a 2010, protagonizou a luta pelo reconhecimento da comunidade do Barro Branco, na zona rural da cidade, como área quilombola.
Desde então, esse era seu lugar preferido para dançar coco de roda e cantar, animada, "Quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro. Pisa ligeiro, pisa ligeiro", lembram a filha Marta Rachel, 24, e o irmão Milton, 39.
Maria Lucineide da Silva, conhecida como Nena Marinho –apelido de infância e sobrenome do avô–, morreu de câncer no dia 11 de abril no Recife, aos 44 anos. Deixa a mãe, cinco irmãos, cinco filhos e um neto.
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