Folha de S. Paulo


Viciados criam cracolândia dentro de escola da zona sul de São Paulo

Rivaldo Gomes/Folhapress
Imóvel abandonado dentro do terreno da Escola Estadual Leonor Quadros, em Cidade Ademar (zona sul)
Imóvel abandonado dentro do terreno da Escola Estadual Leonor Quadros, em Cidade Ademar (zona sul)

Viciados e traficantes ocuparam uma casa abandonada dentro do terreno da Escola Estadual Leonor Quadros, no Jardim Miriam, em Cidade Ademar (zona sul), unidade sob responsabilidade da gestão Geraldo Alckmin (PSDB).

Pelo menos dez pessoas frequentam o local, que fica a cerca de 20 metros da quadra e do prédio principal da unidade –não há muro para separar estudantes e funcionários dos criminosos.

A escola abriga estudantes a partir de 12 anos (séries finais do ensino fundamental e ensino médio). O entra e sai de usuários de drogas é constante. Eles invadem o colégio a partir da avenida Cupecê, seja pulando o muro ou passando por debaixo de um portão. O local está sujo, com mato alto e muito entulho espalhado.

"É uma emergência. Será que não enxergam o problema que é aquilo lá, daquela maneira? Precisam resolver essa situação o quanto antes", afirmou a vendedora ambulante Ester Sobral, 38, com filho na escola.

Também mãe de estudantes, a dona de casa Silvana Rosa, 43, critica a situação em que a escola se encontra e diz que há "descaso" por deixarem o terreno virar um lugar para o consumo de drogas. "A escola é tachada no bairro inteiro como 'lixo'. Se pudesse, eu colocaria minha filha em um colégio particular", afirmou. "O que a gente percebe é que todo mundo aí está desmotivado", disse.

CONVÍVIO

Alunos disseram que funcionários e professores pedem para que eles fiquem afastados da parte dos fundos do terreno, onde estão os usuários de drogas. A dona de casa Elizabete do Vale, 37, tem filha na escola e disse que a situação é crítica quando chega no início da noite para buscá-la. "Vejo muita gente pulando o muro. Desde o ano passado tento tirar minha filha daqui, mas não consigo."

Segundo comerciantes da região, PMs vão às vezes até o local e jogam spray de pimenta nos usuários, que fogem. Logo depois, estão todos de volta.

Rivaldo Gomes/Folhapress
Segundo moradores, local em terreno de escola abriga viciados e traficantes
Segundo moradores, local em terreno de escola abriga viciados e traficantes

A Escola Estadual Leonor Quadros também sofre com o consumo de maconha de parte dos próprios alunos nos pátios internos. Segundo estudantes, é comum sentir o cheiro da droga no local. "Os moradores de rua chegaram há pouco tempo. Pior ainda são os próprios alunos que fumam maconha dentro da escola, sem ninguém impedir", afirma o vigilante Wilson Roberto da Cruz, 40.

A reportagem apurou que até mesmo aulas de educação física acabam restritas a áreas internas da unidade para que os estudantes não sejam expostos a quem usa drogas na parte de fora. Também é comum, de acordo com pais, funcionários e estudantes, ver alunos pulando os muros da escola, que tem vidros quebrados, pichações e sinais de depredação.

A Escola Estadual Leonor Quadros, em Cidade Ademar (zona sul), já teve o nome envolvido em outra polêmica no passado recente. Em maio de 2015, uma criança de 12 anos contou à polícia que foi estuprada por três adolescentes no banheiro do colégio. Na ocasião, um dos adolescentes confirmou que teve a ajuda de outros dois colegas ao estuprar a menina.

OUTRO LADO

A Secretaria Estadual da Educação, sob a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), diz que a cabine de força, e não uma casa abandonada, próxima à escola Leonor Quadros, está desativada –e será demolida até o fim desta semana. Segundo a pasta, a escola está no plano de obras e reformas da FDE (Fundação para Desenvolvimento da Educação) e receberá, a partir do segundo semestre, R$ 2,3 milhões.

A secretaria diz que, antes do início do ano letivo, diversos conjuntos de mesas e cadeiras das classes foram repostos, os vidros quebrados, substituídos, e as salas de aula foram pintadas. O próprio órgão do governo estadual reconhece que a escola sofre com atos de vandalismo.

A secretaria afirma que a equipe gestora se reunirá com os pais e comunidade para enfatizar a importância da preservação do patrimônio escolar. A escola diz que há projetos de prevenção contra o uso de drogas e que há conversas com pais, conselho tutelar e ronda escolar.

A Polícia Militar diz que vai analisar a readequação do policiamento na região para fortalecer o trabalho preventivo nas imediações da unidade. "Além disso, importante ressaltar que a PM, por meio da ronda escolar, está em constante diálogo com o colégio, à disposição para atuar diante de qualquer necessidade", afirmou, em nota.

Um morador disse que a PM foi nesta quinta (11) ao local, um dia após o contato da reportagem, e tirou viciados de lá.


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