Folha de S. Paulo


Homem é encontrado morto após tirar viciada da cracolândia, no centro de SP

A Polícia Civil investiga as causas do assassinato de Bruno de Oliveira Tavares, 34, encontrado morto, com as mãos amarradas e ferimentos no corpo, na região da cracolândia, no Bom Retiro (centro), na última segunda (8), depois de ter ficado desaparecido por quatro dias.

Ex-viciado em drogas, Tavares trabalhava havia 15 dias em uma empresa de resgate de dependentes químicos, a Restart Remoções.

Segundo a polícia, a vítima foi morta por traficantes ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) enquanto buscava uma viciada para interná-la.

Reprodução/Arquivo Pessoal
Bruno de Oliveira Tavares trabalhava em empresa que atua no resgate de viciados em drogas
Bruno de Oliveira Tavares trabalhava em empresa que atua no resgate de viciados em drogas

O dono da Restart, Marcio Melani, 42, estava com Tavares na noite em que ele desapareceu. "Uma mãe nos contratou para buscar a filha na cracolândia", diz.

Os dois pediram autorização aos traficantes locais para realizar a busca, mas os criminosos suspeitaram que Tavares, por ter sotaque carioca, fosse integrante do CV (Comando Vermelho), facção rival ao PCC.

O caso foi registrado no 3º DP (Campos Elíseos). O delegado Osvany Zanetta Barbosa diz que a dupla achou a dependente química que estava procurando. Melani teria pedido a Tavares para aguardar com a jovem na rua, enquanto foi buscar a mãe para reconhecê-la.

"Quando voltou, ele (Tavares) tinha desaparecido. E foi informado que Bruno disse que era do CV. Por isso, teria sido levado (pelos traficantes) para ser averiguado", afirmou.

Antes de achar o corpo, o delegado chegou a pedir autorização da Secretaria da Segurança Pública, sob gestão Geraldo Alckmin (PSDB), para que a Tropa de Choque fizesse uma operação na região da cracolândia, para tentar encontrar Tavares -o que não foi autorizado, segundo Barbosa, sob justificativa de que a vítima poderia estar lá por escolha, já que já foi dependente químico.

Aliados por quase 20 anos, PCC e CV romperam em outubro de 2016, causando a morte de dezenas de presidiários no Norte e Nordeste.

Quatro familiares de Tavares reconheceram o corpo nesta terça (9), mas não quiseram se manifestar.

DEDICAÇÃO

"Era amigo dele há muitos anos", afirmou Melani sobre Tavares, que era carioca e já havia trabalhado na Restart há dois anos.

"Era uma pessoa de índole e caráter incontestáveis. Não era criminoso. Não tinha envolvimento com nada", afirmou Melani. "Você acha que uma pessoa má iria se dedicar, como ele se dedicava, para ajudar pessoas que, normalmente, ninguém dá atenção?", questiona.

INTERNAÇÃO

Quando uma pessoa não quer ser internada voluntariamente, uma lei federal de 2001 dá legalidade à internação, caso um familiar solicite por escrito e o pedido seja aceito por um médico psiquiatra.

A lei determina que, nesses casos, os responsáveis técnicos informem o Ministério Público sobre a internação e seus motivos, para evitar a possibilidade de cárcere privado.

A reportagem não conseguiu confirmar com o dono da Restart Remoções se o procedimento foi seguido. A polícia diz que a empresa não tem irregularidades. A empresa afirma ter médicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas, enfermeiros, técnicos em enfermagem e socorristas para atender dependentes químicos e pessoas com outras doenças.


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