Folha de S. Paulo


Bar de palestino preso em protesto é pátio para diversidade cultural

Gabriel Quintão/UOL
Clientes conversam em frente ao bar Al Janiah, no Bexiga, na região central de São Paulo
Clientes conversam em frente ao bar Al Janiah, no Bexiga, na região central de São Paulo

O bar de Hasan Zarif, um dos palestinos detidos em São Paulo após confronto com manifestantes contrários à Lei de Migração, é um ponto de encontro de refugiados no país.

Do lado de fora, o Al Janiah é mesmo como uma casa árabe: discreta. São a fila e o som da música por cima dos muros que identificam sua entrada. Cada um ganha uma comanda com um nome (o seu próprio) escrito nesse idioma em um pedaço de papel. O sotaque que paira é aquele familiar de empórios e restaurantes que são patrimônio gastronômico da região da rua 25 de Março.

Temos a certeza de que o Al Janiah é uma casa árabe –para ser mais exato, palestina– quando vemos a bandeira com um grande triângulo vermelho rodeada de listras preta, branca e verde.

E como toda casa árabe que se preze, tem um belo pátio do lado de fora. Nesta mistura de bar e centro cultural, é onde acontecem apresentações musicais.

Pátios –que às vezes têm belas fontes e jardins– são comuns nas residências do mundo árabe. Síria, Líbano e Palestina podem exibir exemplos dessas construções. É neste espaço que as famílias se encontram para tomar café, almoçar, fumar narguilé e conversar.

Como uma extensão dessa cultura da comunhão, no caso do Al Janiah, os encontros se dão entre paulistanos, árabes, palestinos e com imigrantes e refugiados de outras origens, como africanos, que se reúnem ali para ouvir e tocar música, beber drinques, comer e conversar. Também acontecem ali cursos, debates e oficinas de diversas tradições.

O assunto, não raro, toca o campo de imigrantes e refugiados e vira um pátio para troca de cultura. O nome da casa, aliás, Al Janiah, lembra uma aldeia da Cisjordânia, território parcialmente ocupado por Israel desde 1967.

O cardápio do Al Janiah traz elementos clássicos da cozinha árabe. São receitas às quais já estamos familiarizados em São Paulo. Entre elas, tabule, coalhada, falafel, cafta, quibe.

Mas com algumas surpresas aqui e ali. Como o forno saj, uma chapa arredondada em que se preparam pães. Fora isso, vale experimentar o homus com pedaços de carne e castanha-de-caju, não tão comum por estas bandas.

E também o Palestina Libre, um drinque com araque (destilado de anis), cachaça, limão, pimenta e zaatar.


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