Folha de S. Paulo


Doria joga fora flores que recebeu de ciclista pelos 'mortos nas marginais'

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress
O prefeito João Doria recebe flores dadas por ciclistas, que depois jogou fora pela janela
O prefeito João Doria recebe flores dadas por ciclistas, que depois jogou fora pela janela

Uma ciclista se aproxima do carro e oferece flores ao prefeito João Doria (PSDB). Os dois conversam rapidamente e ele não segura as plantas. A mulher insiste e as coloca no painel do veículo. O tucano se irrita, reage e, já indo embora, atira as flores pela janela.

A entrega das flores, neste domingo (30), foi uma das formas de protesto contra o aumento dos limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros e as mortes em acidentes. Cumprindo promessa de campanha, o tucano aumentou as velocidades máximas nas pistas expressa, central e local em 90 km/h, 70 km/h e 60 km/h, respectivamente.

"Falei que estava entregando flores para ele em homenagem aos mortos que vieram, como de fato vieram nas marginais", disse a produtora e cicloativista Giulia Grillo, 54, após o episódio.

A cena aconteceu quando Doria saía de cerimônia de abertura do centro cultural Japan House São Paulo, na avenida Paulista (região central de SP) –que contou também com a presença do presidente Michel Temer (PMDB). Questionada sobre o ato, a assessoria de imprensa de Doria afirmou que "o prefeito reagiu a um gesto invasivo e desnecessário".

No final da tarde deste domingo (30), a assessoria de Doria enviou por meio de nota uma declaração do prefeito em que ele afirmava não aceitar intimidações. "Nem com gritos nem com flores. Alguns ativistas e ciclistas são iguais a grevistas. São personalistas e egoístas. Prefiro o povo. Gente simples e generosa. E que quer o bem do Brasil."

Já nesta segunda-feira (1°), a assessoria do tucano enviou uma nova declaração com ajustes, desta vez sem ataque aos ciclistas: "Não aceito intimidações nem com gritos nem com flores. Alguns ativistas são iguais a grevistas. Prefiro o povo. Gente simples e generosa. Que quer o bem do Brasil."

O Código de Trânsito Brasileiro estabelece multa média (R$ 130 e quatro pontos na carteira) para quem "atirar do veículo ou abandonar na via objetos ou substâncias". Neste caso, a multa seria para o motorista de Doria. A gestão não comentou o assunto.

Na campanha, Doria acusava a gestão Fernando Haddad (PT), que reduziu os limites nas marginais, de promover a "indústria da multa". Com a mudança em sua gestão, as multas caíram 57% nas vias, mas os acidentes com vítimas aumentaram.

Entre 25 de janeiro e 10 de março deste ano, foram realizados 186 atendimentos pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) nas duas marginais, segundo dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Em 2016, no mesmo período, foram 65 casos –um aumento de 186,2% (ou 2,9 vezes).

OS ACIDENTES NAS MARGINAIS - Atendimentos feitos pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)

Após 25 meses sem mortes por atropelamentos, um homem de 76 anos morreu após ser atropelado duas vezes na marginal Tietê na madrugada do dia 25. Doria acusou o pedestre de "imprudência". Antes disso, já havia sido registradas outras sete mortes em acidentes nas marginais.

CICLOVIAS

Na saída do evento na Paulista, Doria ouviu apelos de ciclistas para não retirar ciclovias da cidade. A cicloativista Giulia afirmou também estar preocupada com planos da gestão para a área. "Eu como ciclista, como pedestre, estou me sentindo muito desprotegida. Se ele [Doria] tirar as ciclovias como ele quer, nós vamos correr muito risco", disse.

A gestão tucana quer trocar ciclovias pelas chamadas ciclorrotas, nas quais os ciclistas têm de dividir espaço com os carros e não estão protegido pela segregação das vias. A primeira região a receber mudanças será a Vila Prudente, na zona leste, onde a proposta deve ser apresentada a partir deste mês ao prefeito regional e aos ciclistas.


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