Folha de S. Paulo


Imóvel perto de torre da PM acumula dezenas de marcas de tiro no Alemão

Domingos Peixoto/Agência O Globo
Imóvel fica cheio de marcas de tiros após dias de operação policial no Complexo do Alemão, no Rio
Imóvel fica cheio de marcas de tiros após dias de operação policial no Complexo do Alemão, no Rio

Moradores do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio, voltaram a protestar na noite desta quarta-feira (26), após o enterro de um adolescente, atingido durante um tiroteio entre policiais e traficantes na terça (25).

Por volta das 20h30, havia interdições na estrada do Itararé, que dá acesso ao conjunto de favelas, segundo o Centro de Operações da Prefeitura do Rio. A Polícia Militar está no local e, segundo testemunhas, chegou a usar gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

Essa é a segunda noite de manifestações no complexo. Na terça-feira (25), moradores protestaram contra a violência na região, que vem sofrendo com constantes tiroteios entre policiais e criminosos.

Desde sexta (21), o Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio vinha realizando operações para instalar uma torre blindada no alto da favela Nova Brasília, dentro do complexo. A torre foi finalmente instalada na última terça (25).

A ação deixou quatro mortos, entre eles o adolescente Paulo Henrique Oliveira de Moraes, 13, enterrado nesta quarta.

Editoria de Arte/Folhapress

A violência deixou marcas também nos imóveis. Um dele, próximo ao local de instalação da torre acumulava dezenas de marcas de tiros.

Apesar de não ter havido operação policial nesta quarta, moradores dizem que o clima segue tenso no complexo.

Principal ícone da política de pacificação dos morros do Rio, o Alemão, que foi ocupado de modo cinematográfico em 2010, tem sido cenário de confrontos diários entre polícia e traficantes desde o início de fevereiro.

Especialistas veem na instalação da torre um símbolo do fracasso da política de segurança –a ideia, após a ocupação da favela, era que polícia e população passassem a ter relação mais próxima.

Mesmo quem a defende, como o antropólogo e ex-capitão do Bope Paulo Storani, reconhece que ela não representará solução para o conflito a longo prazo.

"A polícia não pode simplesmente sair do Alemão. A torre pelo menos dará segurança para o efetivo policial que está lá. Mas sabemos que não vai solucionar o problema. Ela será atingida por tiros constantemente."

Luciano Belford/AGIF
Policiais fazem operação desde sexta (21) no Complexo do Alemão para a instalação de cabine blindada
Policiais fazem operação desde sexta (21) no Complexo do Alemão para a instalação de cabine blindada

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