Folha de S. Paulo


Ambulantes se espalham na Paulista com seus tabuleiros de café da manhã

Antes de dormir, Adriana Gonçalves de Brito, 40, prepara massa de tapioca e bolo de aipim para o café dela e de dezenas de pessoas que passam pela esquina da rua Pamplona com a avenida Paulista.

Ela é uma entre tantos ambulantes que se espalham pela avenida e seus arredores para vender café da manhã. Comuns ao lado de obras e em pontos de ônibus, eles se multiplicaram no cartão-postal da cidade e atraem quem não tem tempo de fazer a primeira refeição do dia em casa.

Em seus tabuleiros, os ambulantes oferecem desde o tradicional pingado até lanches naturais à freguesia, entre engravatados e apressados.

Adriana está há três meses em seu "ponto". De segunda a sexta, às 4h30 ela já está de pé para preparar as bebidas quentes que coloca em garrafas térmicas e leva à Paulista de carona com um vizinho. Seu expediente termina por volta das 7h30, quando policiais militares começam a circular. É nesse horário que outros vendedores também desmontam suas vendas, antes mesmo da passagem dos PMs.

"Você está vendo nossos amigos ali? Eles nos aconselharam a não ficar por aqui depois das 7h30, que começa a ficar complicado", afirma Adriana, apontando para os policiais que passavam do outro lado da avenida.

Moradora da Bela Vista, centro da cidade, Adriana voltou a São Paulo depois de cinco anos em sua cidade natal, Tauá, no Ceará. Ela já teve uma barraca ao lado do Terminal Bandeira, no centro, mas antes disso tinha outra ocupação, a de supervisora de recursos humanos.

"Tinha uma carreira sólida, mas trabalho por conta própria para poder ficar mais tempo com os meus três filhos." O próximo objetivo é levar o marido, que é padeiro, para ajudá-la com as vendas, que chegam a render de R$ 70 a R$ 90 de lucro por dia. Entre os clientes dela estão executivos, estudantes e trabalhadores em geral. Entre eles, a enfermeira Eliziane Oliveira, 32, que vive em Osasco, na Grande SP.

"Pego o trem e duas linhas de metrô para chegar a tempo no meu trabalho no hospital. Adoro tomar café da manhã com tapioca", diz Eliziane, enquanto Adriana prepara o recheio do beiju de coco, queijo e manteiga para ela.

DUAS RODAS

Ao lado do metrô Brigadeiro, no sentido centro, fica Luiz Antônio Paena, 31. Em vez de usar uma banca fixa resolveu equilibrar seus produtos numa bicicleta. Ele vende pães na Paulista há pouco mais de um mês.

Paena acorda todos os dias às 2h50 e sai de Guaianazes, na zona leste. No caminho, compra os pães e os leva de carro até a região do Paraíso, onde começa a trabalhar às 5h. "Deixo o carro e aproveito a ciclovia para chegar até aqui", diz Luiz.

Em dois cestos, um preso na frente e outro atrás da bike, ficam pacotes com três pães, doces ou salgados, a R$ 2,50. "O que mais sai é o com cobertura de coco e açúcar e um com recheio de creme", afirma Pana, que contratou quatro outros ambulantes para trabalhar com ele.

Um deles é Felipe Rosa, 19, também de Guaianazes, que trabalha há menos de um mês com Paena, desde deixou uma vaga de jovem aprendiz em uma empresa. "Fiz outra entrevista de emprego e, enquanto espero a resposta, tiro um trocado com a bicicleta."

Ana Maria da Silva, 40, costuma comprar pães doces e os com recheio de frios dos vendedores sobre rodas. Há um mês ela trabalha na região, vinda de São Mateus, na zona leste. "Não consigo comer muito cedo, fico só na água, por isso venho comprar aqui."

PERMISSÃO

Para exercer atividade profissional na qual seja necessário ocupar vias públicas, como é o caso dos ambulantes, é preciso ter um TPU (Termo de Permissão de Uso). Hoje, há 470 vendedores com autorização para vender alimentos em carrinhos e tabuleiros ou em barracas desmontáveis, segundo a Prefeitura de SP.

Vendedores em situação irregular estão sujeitos a advertência, multa de R$ 500, apreensão de equipamentos e mercadorias, suspensão de atividades e cassação do termo de permissão, caso tenha.

Para conseguir a autorização, os vendedores devem procurar a prefeitura regional do bairro onde for atuar, com informações sobre o equipamento a ser utilizado, alimentos comercializados e dias e períodos requeridos para funcionamento.


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