Folha de S. Paulo


DEPOIMENTO

Foi o dia todo em uma salinha até minha filha conseguir um quarto

A sinfonia de tosses e choros intermitentes no pronto-socorro na tarde desta terça-feira (11) já indicava algo comum na vida daqueles pais e crianças que lotavam o Hospital Sabará, em Higienópolis, no centro de São Paulo. Imaginei que seriam, no mínimo, três horas ali. Afinal, são as doenças do outono.

Mas era difícil imaginar que naquele hospital particular referência no atendimento a crianças passaríamos por momentos mais frequentes no sistema público de saúde.

No fim daquela tarde fui alertado por um pai já visivelmente castigado por uma longa espera. "Estou aqui há um dia esperando. Não tem quarto para internar."

A responsável pela recepção, então, me deu o panorama exato da situação: há 18 crianças à espera na frente da Helena, minha filha de quase três anos que sofre com um vírus que a faz respirar mal há alguns dias.

Almeida Rocha - 07.fev.11/Folhapress
Fachada do Hospital Sabará, na região de Higienópolis, no centro de São Paulo
Fachada do Hospital Sabará, na região de Higienópolis, no centro de São Paulo

Era uma espécie de senha que nos colocava no martírio das salas de observação, lugar onde crianças faziam inalação diante de pais tão aflitos e exaustos quanto nós.

Dessa sala, muitos partem para um quarto. Mas somente quando há vagas, claro.

Enquanto isso não acontecia, alguns pequenos eram atendidos em macas num corredor. Médicos e enfermeiros prestativos e munidos de máscaras de oxigênio traziam a medicação na hora certa, além de explicações sobre a situação da nossa filha. Nos deixavam mais seguros. Mas a espera por aquele quarto era castigante.

A tarde acabou, veio a noite e nada de quarto. Já passava das 23h quando ficou claro que passaríamos a noite naquele espaço coletivo dividido por paredes e cortinas.

Enquanto minha mulher, grávida de oito meses, e filha se aprumaram para dormir na área reservada para observação infantil, escolhi trocar a poltrona, confortável por apenas algumas horas, pelo chão, junto com cobertores que uma generosa funcionária havia me dado.

LONGA NOITE

As horas passavam lentas. Além daquela tosse, Helena já mostrava sinais de irritação e aflição naquele espaço de aproximadamente dois metros quadrados.

Veio a quarta-feira. Soube pela enfermeira que até as 11h somente crianças em situação de emergência seriam atendidas.

Contadores de histórias, o Woody do "Toy Story", a Sininho do Peter Pan e até o coelhinho da Páscoa contratados ou voluntários do hospital ajudaram a animar a criançada, mas eles também têm horário de expediente. E vão embora em algum momento.

Não havia desenho animado transmitido por um celular que acalmasse alguém com tosse e catarro a cada cinco minutos.

Às 16h30, enfim, quase 24 horas depois, recebemos a notícia esperada: "O quarto está liberado". Agora a espera será outra. Não vemos a hora de voltar para casa.


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