Folha de S. Paulo


Contratos de lixo em SP têm serviço fantasma de R$ 612 mi, diz auditoria

Auditorias realizadas pelo Tribunal de Contas do Município constataram que as duas empresas responsáveis pela coleta, tratamento e destinação do lixo em São Paulo receberam R$ 612 milhões a mais do que o necessário.

Segundo os relatórios técnicos do TCM, obtidos pela Folha com base na Lei de Acesso à Informação, a Loga e a EcoUrbis não cumpriram com obrigações estabelecidas em contrato, embora tenham sido remuneradas por elas.

O valor, como comparação, é semelhante ao que a cidade gasta em um mandato, segundo o prefeito João Doria (PSDB), na manutenção do estádio do Pacaembu, do autódromo de Interlagos e do Anhembi, bens que deverão ser desestatizados justamente por causa desse alto custo.

As auditorias foram feitas a pedido do conselheiro João Antônio depois que as empresas pediram uma reavaliação dos contratos, alegando que suas despesas eram maiores do que as previstas nos acordos assinados em 2004. A Loga queria um aumento de 12,85% nos pagamentos mensais. A EcoUrbis, de 40,24%.

Eduardo Anizelli - 28.nov.16/Folhapress
Lixo acumulado em rua da região de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo
Lixo acumulado em rua da região de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo

PROBLEMAS

Na licitação do lixo, a cidade foi dividida em dois setores. A Loga atua no centro e nas regiões Norte e Oeste. A EcoUrbis trabalha nas regiões Sul e Leste. Os contratos têm prazo de 20 anos (até 2024).

Contratada por R$ 9,77 bilhões (valor corrigido pela inflação), a Loga deveria ter entregue, segundo o TCM, uma nova estação de transbordo em 2013, mas isso não havia ocorrido até a auditoria.

Deveria ter implantado uma unidade de tratamento de resíduos de saúde em 2014, o que tampouco ocorreu.

A empresa também suspendeu, de acordo com o relatório, os serviços de coleta de resíduos das feiras livres a partir de dezembro de 2011.

Contratada por R$ 10,2 bilhões (valor corrigido), a EcoUrbis deixou de fazer a compensação ambiental devida por desmatamento, segundo a auditoria. Ela aponta que a empresa deveria ter feito o replantio de 3,3 milhões de metros quadrados, mas só fez de 2,4 milhões.

A empresa substituiu investimentos previstos em contrato por despesas e não promoveu a modernização do transbordo Santo Amaro, embora o custo estivesse na tarifa mensal paga pela prefeitura.

SEM RECEBER

A empresas Loga e EcoUrbis afirmam que não receberam valores acima do estabelecido em contrato. "Quando considerada a totalidade dos eventos a serem reequilibrados, a resultante significa um ajuste positivo da tarifa [paga pela prefeitura] a favor da concessionária", diz a EcoUrbis.

A empresa declara que todas as alterações nos marcos contratuais foram denunciadas por ela à prefeitura e consideradas na tarifa. Destaca ainda que só recebeu ofício do TCM com dados sobre a auditoria na terça-feira (11).

A Loga explica que a revisão da tarifa prevista para 2014 não ocorreu, "deixando em aberto alguns itens da prestação de serviços e custos a serem revistos". "Portanto, antes de se efetivar a revisão não há como aferir a correção dos valores pagos. Assim, não se pode afirmar que a Loga tenha recebido recursos acima do previsto."


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