Folha de S. Paulo


Polícia vai avisar governo antes sobre operações perto de escolas, diz Crivella

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), afirmou nesta quarta-feira (5) que a Polícia Militar vai passar a avisar o governo sobre operações em áreas consideradas de risco e que estejam próximas a escolas da rede municipal.

Com as informações enviadas previamente, a Secretaria Municipal de Educação poderá tomar medidas como esvaziar as unidades ou até mesmo suspender as aulas.

Na primeira reunião do recém-criado gabinete de gestão, nesta tarde, Crivella discutiu propostas a fim de evitar casos como a morte de Maria Eduarda Alves da Conceição, 13, baleada quando fazia aula de educação física na última quinta-feira (30), em Irajá, na zona norte.

Além da prefeitura e da PM, participaram do encontro as polícias Civil e Federal, a Guarda Municipal, as Forças Armadas, entre outros órgãos de segurança pública.

"Existe uma demanda por parte do povo. As pessoas ligam e pedem ação policial. Mas isso não pode ocorrer sem que a prefeitura seja avisada, e os nossos professores e escolas sejam esvaziados. Não pode haver mais operações. E mais do que isso: quando os setores de inteligência descobrirem que há briga entre traficantes e quadrilhas nas áreas próximas a escolas, precisamos ser avisados também para que as aulas sejam suspensas", afirmou o prefeito. O compromisso firmado entre o governo e a PM não quer dizer, contudo, que a prefeitura poderá desautorizar os batalhões a fazer ações de repressão ao crime organizado.

"O gabinete de gestão vai funcionar como todos funcionam. Articulando todas as entidades que cuidam da segurança na área municipal", disse. "O que deliberamos hoje foi consenso de todos. Um gabinete institucional não tem uma organização hierárquica, política ou administrativa. Ali são debatidos os temas como um fórum, onde todos trocamos ideias."

Crivella revelou ainda que a blindagem dos muros e paredes das escolas, projeto anunciado logo após a morte de Maria Eduarda, será executada inicialmente em dez colégios da gestão municipal.

A proposta consiste em reforçar a estrutura das unidades com uma argamassa especial, importada dos Estados Unidos, e afixada com espessura de 3 a 4 cm. Ainda não há, porém, prazo e custo definidos para implementação. Os primeiros contêineres com o material de blindagem chegarão ao porto do Rio nos próximos dias, de acordo com o prefeito.

"Gostaria de blindar todas. Mas nesse primeiro momento vamos blindar dez", comentou ele, com tom de resignação. "Mais importante do que blindá-las, é usar a inteligência. Ou seja: não permitir que operações policiais ocorram quando as escolas estão em funcionamento", declarou.

Ao menos um dos tiros que atingiram Maria Eduarda foi disparado por PMs, segundo informação da Globonews. Ainda de acordo com o canal, o corpo da adolescente tinha cinco lesões, sendo duas no lado direito do pescoço, perto da orelha (a causa da morte, segundo o laudo); duas nas nádegas, que podem ter sido causados por um único disparo; e outra na coxa esquerda.

Outras duas pessoas morreram na última semana por conta de bala perdida no Rio. Hosana de Oliveira Serafim, 13, foi atingida na porta de casa no mesmo bairro em que morreu Maria Eduarda, no Acari (zona norte). Evangelista da Silva, 72, morreu também na porta de sua casa, na favela Mandela 2, em Manguinhos.


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