Folha de S. Paulo


Prato gourmet amplia apetite e interesse de idosos por comida

Ze Carlos Barretta/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 28-03-2017, 13h00: Lar Santana melhora visual da refeicao para melhorar o apetite e o interesse por comida em idosos. (Foto: Ze Carlos Barretta/Folhapress COTIDIANO)
Lar de idosos melhora visual da refeição para melhorar o apetite e o interesse por comida de moradores

Uma medida simples, artística e de atenção à realidade do paladar de pessoas mais velhas tem conseguido melhorar o apetite e o interesse por comer em um lar de idosos da zona oeste de São Paulo.

Há quatro meses, a nutricionista Vânia Escócio teve a ideia de adotar no cardápio servido aos moradores do residencial Lar Sant'ana, no bairro do Butantã, um toque de chefe de cozinha, oferecendo pratos bem decorados, explorando contraste de cores e texturas dos alimentos.

Mesmo nos pratos de idosos que precisam receber uma comida bem triturada –ou em forma de purê–, a preocupação de fazer uma apresentação estética que incentive o apetite é diária.

O resultado foi imediato, com aumento do interesse pelos alimentos, diminuição da recusa dos pratos e um clima de discussão e festa em torno da decoração da comida.

"O passar da idade vai privando os idosos de alguns prazeres, entre eles pode estar o de comer. Por isso, é preciso ter cuidado com o conforto e com o afeto da alimentação servida", diz Maureen Lemos Gregson, coordenadora de nutrição da Liga Solidária, que mantém a casa de idosos com 49 hóspedes, que chegam a pagar R$ 15 mil por mês.

A professora aposentada Lucy Maria Gregori de Lima, 68, está no lar desde novembro para se recuperar de um processo cirúrgico. Ela é uma das entusiastas da medida.

"Há uma ternura no modo de servir os pratos, na forma de apresentar os sabores e oferecer os nutrientes. Mesmo para as pessoas que são muito dependentes na hora de comer, há um tratamento alegre, respeitoso, e o clima é sempre de festa", afirma.

Para a advogada Maria de Lurdes Gotillo, 60, que acompanhava a mãe Gilda Quartieiro Barbosa, 89, em um almoço na última terça-feira (28) no residencial de idosos, a apresentação artística dos pratos é um sucesso.

"Minha mãe adora o visual bonito dos pratos. Ela tinha em casa essa preocupação estética também, quando fazia comida para a família. Ela fica claramente com mais vontade de comer, de provar e de comentar com os outros o visual. Isso ajuda a socializar."

ESTIGMA

Segundo a nutricionista Vânia Escócio, a ideia de sofisticar o visual dos pratos surgiu também para confrontar o estigma social de que comida de gente mais velha é "sem graça e sem tempero".

"Queria tentar mudar essa impressão, transmitir um carinho pela pessoa, por seus familiares que a visitam, por meio da comida. Aí começamos, pegando dicas aqui e ali e foi dando certo."

Escócio afirma que as famílias precisam ficar mais atentas com os aspectos de alimentação de seus integrantes mais velhos.

"Eles tendem a deixar de comer certos alimentos devido a problemas na dentição, por dificuldades de deglutição, por perdas olfativas e até mesmo por não terem mais habilidade de cozinhar. Assim, podem optar por comer apenas lanches, sopas e ficar sujeitos à desnutrição", diz.

Sem uma alimentação adequada, diz a especialista, também avançam as perdas musculares, ósseas e outros problemas de saúde.

"O idoso não pode se restringir de comer algo devido a mudanças em sua dentição, por exemplo. Há várias maneiras de se preparar um alimento e evitar que se deixe de ingerir nutrientes importantes. De vez em quando, tudo bem um congelado, uma papinha, mas quando isso vira uma regra, algo está muito errado", diz Maureen.


Endereço da página:

Links no texto: