Uma medida simples, artística e de atenção à realidade do paladar de pessoas mais velhas tem conseguido melhorar o apetite e o interesse por comer em um lar de idosos da zona oeste de São Paulo.
Há quatro meses, a nutricionista Vânia Escócio teve a ideia de adotar no cardápio servido aos moradores do residencial Lar Sant'ana, no bairro do Butantã, um toque de chefe de cozinha, oferecendo pratos bem decorados, explorando contraste de cores e texturas dos alimentos.
Mesmo nos pratos de idosos que precisam receber uma comida bem triturada –ou em forma de purê–, a preocupação de fazer uma apresentação estética que incentive o apetite é diária.
O resultado foi imediato, com aumento do interesse pelos alimentos, diminuição da recusa dos pratos e um clima de discussão e festa em torno da decoração da comida.
"O passar da idade vai privando os idosos de alguns prazeres, entre eles pode estar o de comer. Por isso, é preciso ter cuidado com o conforto e com o afeto da alimentação servida", diz Maureen Lemos Gregson, coordenadora de nutrição da Liga Solidária, que mantém a casa de idosos com 49 hóspedes, que chegam a pagar R$ 15 mil por mês.
A professora aposentada Lucy Maria Gregori de Lima, 68, está no lar desde novembro para se recuperar de um processo cirúrgico. Ela é uma das entusiastas da medida.
"Há uma ternura no modo de servir os pratos, na forma de apresentar os sabores e oferecer os nutrientes. Mesmo para as pessoas que são muito dependentes na hora de comer, há um tratamento alegre, respeitoso, e o clima é sempre de festa", afirma.
Para a advogada Maria de Lurdes Gotillo, 60, que acompanhava a mãe Gilda Quartieiro Barbosa, 89, em um almoço na última terça-feira (28) no residencial de idosos, a apresentação artística dos pratos é um sucesso.
"Minha mãe adora o visual bonito dos pratos. Ela tinha em casa essa preocupação estética também, quando fazia comida para a família. Ela fica claramente com mais vontade de comer, de provar e de comentar com os outros o visual. Isso ajuda a socializar."
ESTIGMA
Segundo a nutricionista Vânia Escócio, a ideia de sofisticar o visual dos pratos surgiu também para confrontar o estigma social de que comida de gente mais velha é "sem graça e sem tempero".
"Queria tentar mudar essa impressão, transmitir um carinho pela pessoa, por seus familiares que a visitam, por meio da comida. Aí começamos, pegando dicas aqui e ali e foi dando certo."
Escócio afirma que as famílias precisam ficar mais atentas com os aspectos de alimentação de seus integrantes mais velhos.
"Eles tendem a deixar de comer certos alimentos devido a problemas na dentição, por dificuldades de deglutição, por perdas olfativas e até mesmo por não terem mais habilidade de cozinhar. Assim, podem optar por comer apenas lanches, sopas e ficar sujeitos à desnutrição", diz.
Sem uma alimentação adequada, diz a especialista, também avançam as perdas musculares, ósseas e outros problemas de saúde.
"O idoso não pode se restringir de comer algo devido a mudanças em sua dentição, por exemplo. Há várias maneiras de se preparar um alimento e evitar que se deixe de ingerir nutrientes importantes. De vez em quando, tudo bem um congelado, uma papinha, mas quando isso vira uma regra, algo está muito errado", diz Maureen.