Folha de S. Paulo


Postos de saúde de São Paulo não têm kit para tratamento de diabetes

Ronny Santos/Folhapress
Mecânico aposentado Amaro Ferreira de Araújo, 67, na UBS Dr, Humberto Pascale, na Santa Cecília, centro de SP
Mecânico aposentado Amaro Ferreira de Araújo, 67, em UBS na região de Santa Cecília, centro de SP

Há pelo menos quatro meses, os pacientes com diabetes não conseguem retirar integralmente o kit para medir a glicose e aplicar a insulina. A situação se arrasta desde o fim do ano passado e não foi regularizada nos três meses da gestão João Doria (PSDB).

Em 25 de fevereiro, o "Agora" já havia publicado reportagem sobre o desabastecimento de insumos. Na ocasião, a prefeitura afirmou que o estoque seria regularizado até a primeira quinzena de março.

Em contato por telefone com 12 postos de saúde, ontem, a reportagem constatou que nenhum deles têm seringa para aplicação de insulina. Em cinco, também não há lancetas (agulha) para furar o dedo e em duas faltam as fitas para medir a glicemia.

"Desde o início do ano não recebemos as seringas, e a entrega das lancetas e fitas são irregulares. Estamos recebendo menos de 50% da quantidade necessária", disse funcionário da UBS Engenheiro Goulart, em Cangaíba (zona leste), sem saber que se tratava da reportagem.

Sem seringas, lancetas e fitas, a UBS Brasilândia (zona norte) tem a situação mais crítica. "As fitas acabaram hoje", disse um atendente. Segundo ele, seringas estão com o abastecimento suspenso; fitas e lancetas chegam, mas em pouca quantidade.

A UBS Antonio Estevão de Carvalho, no Arthur Alvim (zona leste), também está sem fralda geriátrica Extra Grande. "Faz algum tempo que não chega a quantidade certa para cada paciente", afirmou um funcionário. No local não há seringas e lancetas.

SEM ESTOQUE

Faltam seringas nas UBSs Dom Angelico, em Guaianases (zona leste), Dr. Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão, na Brasilândia (zona norte), Parque Edu Chaves, no Jaçanã (zona norte), Caxingui, no Butantã, e Vila Ipojuca, na Lapa (ambos na zona oeste) e Alto do Umuarama, no Campo Limpo (zona sul).

Não há seringa e lanceta na Vila Santa Maria, na Casa Verde (zona norte) e Jardim Santa Maria, em Itaquera (zona leste). Faltam seringas e fitas na Jardim Guarani, na Freguesia do Ó (zona norte).

EM FALTA

Há dois dias para o fim do prazo estipulado pela gestão João Doria (PSDB) para abastecer as farmácias dos postos de saúde com os medicamentos em falta desde o fim do ano passado, há faltas pontuais de doses nas farmácias. O "Agora" constatou ontem que ao menos 12 remédios ainda estavam em falta na UBS Dr. Humberto Pascale, na Santa Cecília (região central).

A maioria dos pacientes deixou a unidade somente após receber parte dos remédios necessários. A vendedora ambulante Divina Martins, 69 anos, não conseguiu retirar os medicamentos sinvastatina e melodipina. Dos três pedidos pelo médicos, só conseguiu retirar um, o captopril. "Já tinha algum tempo que eu não conseguia retirar o captopril, agora falta conseguir pegar os outros dois", disse Divina. O mecânico aposentado Amaro Ferreira de Araújo, 67 anos, teve mais sorte. Dos cinco remédios, só o hidroclorotiazida (hipertensão) estava em falta. "É ruim não ter, mas antes estava bem pior."

Após recorrer a doações de laboratórios particulares para o abastecimento de 172 medicamentos em falta, a prefeitura prometeu fazer a entrega até o fim de março. O prazo já havia sido prorrogado em fevereiro. No site da prefeitura "Aqui Tem Remédio", as doses consultadas pela reportagem são encontradas em parte das unidades. Dos 12 remédios em falta constatados pelo "Agora", 11 fazem parte da lista de remédios inicialmente prometidos para 20 de fevereiro.

COMPRADOS

A Secretaria Municipal da Saúde, sob a gestão João Doria (PSDB), diz que a previsão de normalização dos estoques de lanceta é a primeira quinzena de abril. Sobre as seringas, "uma compra emergencial está em andamento". A pasta diz que os insumos podem ter acabado em função da demanda represada, como as 8 milhões de fitas recebidas em março e distribuídas.

"Uma nova compra de dez milhões de fitas foi realizada" e deve chegar ao centro de distribuição no início de abril. Sobre falta de remédios, fala que é a causa é corte drástico na compra pela gestão anterior e que já retomou as compras. Anteriormente, a assessoria de Fernando Haddad (PT) afirmou que ele deixou verba nos cofres da prefeitura.


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