Folha de S. Paulo


Poluição levou artista a criar obra com onças à beira do rio Pinheiros

Divulgação
Onças infláveis do artista Eduardo Srur estão expostas em Genebra, na Suíça
Onças infláveis do artista Eduardo Srur estão expostas em Genebra, na Suíça

Autor da obra "Hora da Onça Beber Água", que consiste em dois grandes felinos infláveis colocados à beira do rio Pinheiros, em São Paulo, o artista plástico Eduardo Srur conta que a água é tema central de seus trabalhos desde o início da carreira.

A obra foi criada em 2014, durante a crise hídrica que atingiu São Paulo. "A situação de poluição extrema desse rio também foi usada como um contexto simbólico para transformar a paisagem urbana", diz ele.

Os felinos serão expostos na exposição "Aqua", que é aberta hoje (22) em Genebra, na Suíça.

Leia abaixo o depoimento de Srur sobre o trabalho.

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Talvez eu sobreviva como a Onça.

Eu tenho trabalhado com a questão da água desde o início da minha carreira. Provavelmente, por causa de duas experiências que tive: uma boa e uma má.

A boa foi que, como surfista, cresci e aprendi a ter respeito pelas forças da natureza. Acreditar em meu instinto tem sido essencial para a minha formação como artista e para a construção da minha visão do mundo.

A má experiência diz respeito à localização do meu estúdio na cidade de São Paulo, em frente ao rio Pinheiros, um dos mais poluídos do Brasil, no coração da minha cidade.

Ele é enorme, mas, ao mesmo tempo, um rio invisível como tantos outros no planeta que não têm mais vida.

Na margem poluída do rio Pinheiros nasceu a Onça.

O trabalho surgiu durante a grande crise da água brasileira, em 2014, que impactou o país causando escassez para milhões de pessoas. A situação de poluição extrema desse rio específico também foi usada como um contexto simbólico para transformar a paisagem urbana.

Eu ampliei a escultura inflável da Onça, que é o principal ator da fauna brasileira de animais selvagens, para refletir e criticar a extinção da espécie e a crise de migração global, sob o aspecto da relação entre o homem e a natureza.

Esta é uma ameaça permanente à vida e aos recursos naturais.

Agora, a Onça reaparece em Genebra protegida pela energia da exposição "Aqua" para lembrar algo essencial: a água está presente em todas as condições. Dentro de nós, em torno de nós, sob e sobre nós.

Como disse o artista Paul Klee: "A arte não reproduz o visível, mas torna visível."

E o jaguar é capaz de ver no escuro.


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