Folha de S. Paulo


Apesar dos problemas, Carnaval de rua de São Paulo leva quase nota máxima

Quem não gosta é bom se preparar: o Carnaval de rua de São Paulo só tem um caminho, o do crescimento.

Ressuscitada, a tradição dos blocos hoje ganhou a dimensão da metrópole. O paulistano que reaprendeu o caminho das ruas nas recentes manifestações políticas ocupou o espaço público para extravasar alegria na festa mais democrática do calendário.

O que se viu foi um caldeirão em que a diversidade se manifestou num emaranhado de ritmos e gêneros musicais, nos quais se congraçavam tanto o axé da Bahia com o sertanejo quanto a música eletrônica com o funk.

Houve canções em inglês e um "revival" das antigas marchinhas, cujas letras, nem sempre inocentes, estiveram no centro de acaloradas discussões.

Foi, em síntese, a pluralidade que regeu a folia na capital. Se havia lugar para famílias com crianças, bebês de colo e cachorrinho na coleira, também havia para os solteiros de todos os matizes, gente de todas as idades e de todos os gêneros.

Alguns empenharam a criatividade em manifestações de repúdio a políticos. Carregando cartazes com "Fora, Temer", "Fora, Doria" e até "Fora, Trump", os foliões mantiveram a tradição carnavalesca de transformar agruras em motivo de piada.

A novidade de 2017 foram mesmo os blocos, que, temáticos, conseguiram agrupar as diversas tribos que convivem num espaço urbano às vezes caótico. Sem abadás nem cordões, ganharam corpo e atraíram turistas do Brasil e do exterior.

A consequência de tamanho sucesso foi sacudirem até a economia, esse ser tão cambaleante —definitivamente incorporados na lista dos grandes eventos turísticos de São Paulo, ao lado da Parada LGBT e da Fórmula 1.

Se a festa foi grande o suficiente para criar frenesi nos setores hoteleiro, de locação de imóveis e de restaurantes, verdade é que não faltou animação no boteco do seu Zezinho e na barraca do pastel de feira da dona Maria. Isso sem falar no exército de ambulantes, credenciados ou não, que já vendiam bebidas no cartão de débito.

A maratona festiva, porém, deixou um rastro de problemas que destoaram do clima de harmonia.

Em aglomerações, o quesito educação conta muitos pontos —mesmo havendo banheiros químicos, houve quem urinasse em jardins de prédios e entradas de lojas, deixando o fedor de urina no ar. Além disso, muito lixo foi jogado nas ruas e calçadas.

A falta de modos, no entanto, não foi exclusividade dos foliões. Em várias vias, o sistema de bloqueio montado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) foi ostensivamente desrespeitado por motoristas avessos à folia.

Furtos de telefones celulares nos pontos de maior aglomeração foram outros pontos negativos, mas, na apuração geral, o novo Carnaval paulistano está de parabéns. Se não leva 10, fica com 9,7.


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