Folha de S. Paulo


Carnaval de SP exalta diversidade, atrai foliões de fora e anima hotéis

Eduardo Knapp/Folhapress
Bruna Soares, que passa seu primeiro Carnaval em São Paulo após anos indo a blocos cariocas

Capital que arrastava a pecha de "túmulo do samba", São Paulo deu a volta por cima: misturou o ritmo com marchinha, MPB, axé, sertanejo e até canção estrangeira, em versão carnavalesca.

Batucou tudo em cima dos blocos, atraiu multidões de paulistanos e agora está arrastando também uma outra turma: gente de fora, de olho em tamanha diversidade.

"A estrutura e a organização dos blocos de São Paulo são profissionais", elogia Bruna Helena de Almeida Soares, 24, em sua estreia no Carnaval paulistano.

Mineira de Carmo do Rio Claro, ela passou os últimos quatro Carnavais no Rio, onde mora e estuda. "O paulistano está eufórico com a folia. Há uma vibração no ar."

Faz questão de ressaltar uma característica dos blocos que reflete o próprio espírito da metrópole: a diversidade. "Ao contrário do Rio, onde os blocos tendem a agrupar públicos específicos, mais segmentados, aqui é a mistura que dita o tom da festa", diz.

Um dos maiores representantes dessa pluralidade, avalia, é o coletivo Love Fest, festival que vai reunir blocos como o BregsNice, Minhoqueens e Meu Santo É Pop -todos com o estandarte da variedade-, nesta segunda (27), a partir das 12h, na praça da República, centro.

"A sonoridade também é outro diferencial que me fascina. É mais contemporânea", defende ela, que pretende ainda curtir o festival eletrônico SPBeats, na terça (28), às 16h, no Arouche. "Só São Paulo para agregar tantas tribos e misturas", afirma.

Fã da cantora Rita Lee, o casal Patrícia, 39, e Fabiano Turcolo, 42, encarou 170 km de Araras (RJ) até São Paulo, para curtir o Ritaleena. Souberam da existência do bloco por meio da biografia da cantora. "Viemos aqui prestar homenagem a Rita Lee, que é de Sampa", diz ele.

COISA DE GRINGO

Com sua identidade multifacetada, a festa paulistana anima não só os foliões.

David Barioni, presidente da SPTuris (empresa de turismo municipal), diz que o Carnaval de São Paulo "já é o segundo maior do Brasil".

"Nossa expectativa é que não pare por aí", empolga-se. "A folia paulistana, que já atrai milhares de turistas de várias partes do país, também começa a se tornar um excelente produto turístico." Segundo ele, o desfile de escolas e blocos figura entre os três eventos mais importantes do município, ao lado da Parada LGBT e da Fórmula 1.

Cálculos da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) revelam que o Carnaval deve movimentar na capital cerca de R$ 750 milhões em setores como hospedagem, alimentação, lazer, transporte, locação de veículos e viagens.

São Paulo só fica atrás do Rio, numa pesquisa que envolve outros polos Carnavalescos: BA, MG, PE e CE.

A rede hoteleira também comemora: a Abih-SP (entidade dos hotéis) calcula alta de 5% na taxa de ocupação em relação ao Carnaval 2016.

Devido à localização, atrás do Sambódromo, o Holiday Inn Anhembi transformou-se numa espécie de concentração dos foliões. Com 760 apartamentos, montou um SOS Fantasia, com plumas, lantejoulas e material de costura, onde é possível fazer até mesmo a customização de abadás, sob a coordenação de estudantes de moda.

A suíte presidencial, juntamente com os outros apartamentos do mesmo piso, foi reservada para uma festa de foliões de diversas partes do Brasil e do exterior.

Uma das hóspedes, Juliana Padulla, 32, que trabalha com beleza e mora nos EUA, veio com um grupo de brasileiros e americanos curtir a folia paulistana. "É o meu primeiro Carnaval no Brasil. Fiquei um pouco apreensiva. É muita gente, mas gostei."

Localizado nos Jardins, o InterContinental registrou aumento de 15% nas reservas. "O Carnaval era um período de baixa ocupação. Era", conta o gerente, David Pressler. "A explosão dos blocos de rua está potencializando o nosso mercado", afirma.

Pesquisa da plataforma online de reserva de acomodações Airbnb mostra que São Paulo teve uma evolução de 187% no número de reservas neste período de folia em relação às do ano passado.

A norte-americana Bithiah Yuan, 25, hospedou-se em Higienópolis, região central de São Paulo, por meio do aplicativo. Apaixonada por MPB e pela cultura afro-brasileira, saiu no bloco Ilú Obá de Min, onde tocou agogô.

Filha de pais de Taiwan, moradora de Los Angeles, ela conheceu, há dois anos, uma americana seguidora de Iemanjá, no Havaí (EUA).

Eduardo Knapp/Folhapress
Bithiah Yuan, filha de taiwaneses e moradora de Los Angeles, se identificou quando entrou em contato com o Ilú Obá de Min

Apaixonou-se pelos orixás e, graças a eles, aprendeu português. Ela canta: "Eu vi mamãe oxum na cachoeira. Sentada na beira do rio", ponto da umbanda. Antes de desembarcar por aqui, pesquisou a temática dos blocos dos dois maiores centros urbanos do Brasil. "Não encontrei o que procurava no Rio, cidade quente e cara demais."

A escolha pela associação paulistana de educação, cultura e arte negra foi decisiva na hora de marcar a viagem.

Ela explica: "O Ilú Obá de Min é mais que um bloco ou uma festa. É performance. São valores culturais, como seu canto, sua percussão, que pesaram na escolha. É mais rico e cultural. É mais vivo, como a cidade de São Paulo!"

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