Folha de S. Paulo


Depoimento

'É o caminho que Deus quiser', disse o cobrador preso no Carnaval

Um dos principais corredores de ônibus de Pinheiros, a rua Teodoro Sampaio viveu um "apagão" de transporte na tarde do último sábado, em meio aos blocos carnavalescos que fecharam ruas da zona oeste de São Paulo.

Em 45 minutos de espera em uma parada de ônibus próxima à rua João Moura, não vi nem sinal de busão. Os táxis passavam pelo local já cheios, e o Uber, em razão da alta demanda, estava com um preço impagável.

Os mais corajosos encararam a pé a subida da Teodoro, com termômetros na casa dos 30°C. "Esperei quase meia hora no ponto lá embaixo. Estou derretendo, mas preciso chegar ao meu trabalho", comentou Ana Lúcia, que cuida de uma idosa no Pacaembu.

Já estava quase desistindo de visitar minha amiga, quando avistei o ônibus da linha 177H-21 (Butantã-Santana). Estava apinhado de foliões, muitos seguindo para a região da avenida Paulista.

Ao chegar à av. Doutor Arnaldo, porém, em vez de virar à direita e seguir o seu trajeto original (que passaria pela al. Santos e depois, Bela Cintra), o ônibus virou à esquerda.

"Moço, que caminho louco é esse? O ônibus não passa pela Paulista", indaguei ao cobrador, enquanto o resto da galera já gritava "para, para" e balançava o coletivo.

"Não sei, não. É o caminho que Deus quiser. Essa linha não é nossa", respondeu o cobrador, já assustado.

O ônibus parou alguns metros depois, em frente ao cemitério do Araçá. Sob protesto, ao menos 15 pessoas desceram. Alguns foram para a parada mais próxima esperar o ônibus "verdadeiro". Outros seguiram a pé para a Paulista. "Terra de ninguém. É caso de polícia", reclamou uma menina. "Relaxa que é Carnaval, bebê", brincou o colega, vestido de bailarina.

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