Folha de S. Paulo


Doria fala sobre polêmica de vídeo e promete zelo na venda de dado pessoal

O vídeo produzido pela Prefeitura de São Paulo para apresentar seu programa de privatizações levou a questionamentos sobre práticas como a venda de dados dos usuários do Bilhete Único.

O prefeito João Doria (PSDB) apresentou as imagens na terça-feira (14) em Dubai, durante um fórum de gestão pública. Ele visita o Golfo nesta semana em busca de investidores árabes.

O trecho sobre o transporte público, em especial, causou desconforto entre parte dos usuários de redes sociais, que se manifestaram contrários a esses planos.

Road Show prefeitura

O vídeo -publicado também no site da prefeitura- oferece o banco de dados de usuários do Bilhete Único e a venda cruzada como oportunidades de negócio dentro dos 55 lotes disponíveis no programa de privatizações, que inclui também o Pacaembu e Interlagos.

"São 15 milhões de cartões já emitidos. Isso tem um valor inestimável", disse Doria à Folha na quarta-feira (15) em Doha, capital do Qatar.

"O banco de dados tem um atrativo muito grande para qualquer instituição financeira, seguradora, rede de varejo. É valiosíssimo."

Usuários demonstraram, no entanto, reservas quanto à venda de suas informações. "É o mesmo zelo que você tem quando faz um crediário nas Casas Bahia, no Ponto Frio, no Pão de Açúcar, onde milhões de pessoas têm contas", disse Doria.

Também estão dentro dos 55 lotes os planetários do Ibirapuera e do Carmo, afirmou o prefeito. O Ibirapuera, ademais, "irá carregar outros parques periféricos", afirmou. "Quem for administrar terá que administrar mais quatro ou cinco outros parques que não têm a mesma visibilidade."

Esse mesmo modelo deverá valer ao Mercadão, que estará atrelado a outros mercados, assim como os mercados da Lapa e de Pinheiros.

VENDA CRUZADA

O prefeito sugeriu, em Doha, que a privatização do Bilhete Único -com o atrativo de seu banco de dados- pode ser "uma boa surpresa" entre as 55 opções de privatização, concessão e parceria.

"Esse sistema hoje gera prejuízo e vai passar a dar lucro", afirmou. A prefeitura avalia que deixará de gastar cerca de R$ 456 milhões por ano com o gerenciamento financeiro do serviço, hoje a cargo da SPTrans, uma empresa de economia mista.

Os planos de privatização também incluem a possibilidade de venda cruzada. A empresa vencedora da licitação poderá oferecer outros serviços com o cartão do Bilhete Único, como vale-refeição e pagamentos de débito.

O termo em inglês ("cross selling"), no vídeo, causou alguma confusão. Críticos entenderam que haveria venda casada, proibida pelo Código de Defesa do Consumidor.

ESTABILIDADE

O prefeito Doria iniciou seu "road show" em Dubai, nos Emirados Árabes, na segunda-feira (13). Ele visitou também o emirado vizinho de Abu Dhabi. Em ambos, reuniu-se com bancos, fundos e autoridades locais.

Doria chegou a Doha na quarta-feira (15), onde visitou a Câmara de Comércio. Estão previstas para o dia seguinte uma série de encontros com órgãos públicos, como o Ministério de Ambiente.

Não há expectativa de fechar negócios durante a viagem, mas o prefeito afirmou haver um crescente otimismo em relação a São Paulo e ao Brasil. Ele disse que os investidores já enxergam estabilidade política no país.

A opinião foi contrastada por especialistas ouvidos pela reportagem da Folha durante a semana. Um dos fundos visitados por Doria, o ICD (Corporação de Investimento de Dubai), disse que o ambiente ainda não é propício para grandes apostas.

"No clima atual de alta inflação e a recente desvalorização da moeda, o mercado não é exatamente encorajador", disse Khalifa AlDaboos, CEO do ICD. O fundo já esteve no Brasil para prospecção.


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