Folha de S. Paulo


'Quem estiver incomodado que se prepare', diz Doria sobre roupa de gari

"Quem estiver incomodado que se prepare. Vou fazer isso por quatro anos. Vou me vestir como eles. Fazer o trabalho que fazem. Carregar pedra, fazer calçada, podar árvores", disse o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), à Folha, ao desembarcar em Dubai neste domingo (12).

Nos Emirados Árabes para reuniões com investidores interessados em uma série de parcerias, incluindo a privatização do autódromo de Interlagos, Doria se refere aos 36% dos paulistanos para os quais suas intervenções vestindo-se com um uniforme de gari beneficiaram mais o prefeito do que a cidade.

Datafolha avaliação Doria

São 30% os que acham que a medida favorece a ambos."Isso representa humildade e capacidade de você ter o sentimento de igualdade."

Os dados fazem parte de pesquisa Datafolha publicada neste domingo. Segundo o levantamento, 44% dos paulistanos acham que a gestão do tucano, eleito no primeiro turno, é boa ou ótima.

Após desembarcar segurando um livro sobre o papa Francisco, Doria disse que a avaliação não surpreende. "Tenho ido às ruas, percebo isso com clareza."

O que causa estranheza a Doria é a "constante crítica da imprensa". "Espero que a Folha dê isso também. Não pode o jornal e os jornalistas pensarem que o mundo é ruim, que as pessoas são ruins. Há coisas boas também", disse.

A reportagem lembrou a Doria que o papel da imprensa é fiscalizar o poder público.

A pesquisa Datafolha foi feita com 1.092 pessoas com 16 anos ou mais, nos dias 8 e 9 de fevereiro na cidade de São Paulo. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos

DIÁLOGO

Doria afirmou também que o diálogo travado com grafiteiros tem progredido e permitido separar esses "artistas urbanos" dos pichadores, declarados inimigos de sua gestão. Segundo a pesquisa, 85% dos paulistanos são favoráveis a grafites em muros e fachadas, e 97%, contrários às pichações.

Opinião dos paulistanos sobre zeladoria, pichações e grafites (em %)

O prefeito disse que desde o início da gestão tem buscado separar as categorias e nega ter sido influenciado pelo debate público causado pela eliminação de painéis.

"Essas são figuras distintas, ainda que tenham a mesma origem. A maior parte dos grafiteiros já foi um pichador. Escolheram o bom caminho: viraram artistas."

Nesta semana, Doria irá se reunir com fundos de investimentos, incluindo uma passagem pelo Qatar, para um programa de 55 privatizações, PPPs e parcerias. "É o mais rigoroso programa de privatização municipal já realizado no Brasil", afirmou.

O Anhembi e o autódromo de Interlagos serão privatizados. Os demais 53 lotes serão administrados em PPPs e parcerias, disse.

Doria espera convencer a região do Golfo, em um período de retração de investimentos. "É o maior mercado da América Latina. Isso é motivador para os fundos", disse.

A motivação será necessária para alguns deles, como o Mubadala, com quem Doria se reúne nesta segunda (13).

O fundo havia investido em 2012 na holding de Eike Batista, cujo império mais tarde entrou em colapso.

Outro empecilho é o preço do petróleo, que alimenta esses fundos, e é hoje vendido a preços historicamente baixos.

CONVITES

A viagem a Dubai foi custeada pelo World Government Summit, um encontro internacional dedicado à gestão pública. Ele fará uma apresentação na terça (14).

Christine Lagarde, chefe do FMI, foi uma das convidadas à abertura neste domingo.

A prefeitura diz que não terá nenhum custo com essa viagem. "Vamos aproveitar a oportunidade e fazer uma viagem dois em um, da maneira mais objetiva o possível."

A viagem a Doha foi paga pelo governo do Qatar.

Doria diz não haver conflito de interesse por ter aceitado esses convites.


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